“Sem um plano de proteção, povos Indígenas isolados estão correndo risco de vida” destacam lideranças indígenas no II Encontro sobre Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato

O evento ocorreu em Santarém (Pará), reunindo lideranças e especialistas indígenas da Amazônia

Publicada em: 02/12/2021 às 11:09

Nos últimos meses vimos inúmeros ataques aos povos indígenas Isolados. Com preocupação e intuito de debater as ameaças e vulnerabilidades desses povos, ocorreu em Santarém (Pará), nos dias 28 a 30 de novembro, o II Encontro sobre Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato: Situações e desafios na proteção dos nossos parentes isolados. Foram três dias de intensas discussões, e a programação contou com assuntos sobre políticas indígenas e indigenistas, pandemia da covid-19, conhecimento e registro sobre os povos indígenas Isolados, e ações e estratégias comunitárias de proteção desses povos. Sob a política de um governo claramente declarado inimigo dos povos indígenas, a cada dia que passa as invasões aos territórios só aumentam, ascendendo alerta para o genocídio desses parentes. Não há nenhum plano de ação efetivo do governo para a proteção desses povos e , por isso, as lideranças indígenas buscam em suas comunidades estratégias e ações a fim de proteger os parentes isolados e de recente contato. “A vulnerabilidade dos nossos parentes isolados está em não ter um plano de governo para a proteção desses povos, que deve ser um plano diferente voltado para nós que já somos contactados. Então, eles (os povos isolados) correm risco de vida, é necessário que se faça um planejamento, mas com a participação do movimento indígena para que de fato funcione” destacou o líder indígena Kora Kamarari, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

A terra indígena Yanomami é um dos territórios que possuem a presença de indígenas isolados. Recentemente, foi denunciado a morte de dois indígenas do grupo em isolamento Moxihatëtëma, em uma ataque realizado por garimpeiros na área. Um dos líderes responsáveis por denunciar, tanto a nível nacional como internacional, os ataques aos seu território é Dário Kopenawa, vice- coordenador da Associação Hutukara. Dário esteve presente no encontro, e destacou a importância de estar junto de outras organizações com objetivo de construir um plano de proteção.

Essa discussão foi muito rica, um debate sobre os povos da floresta, chamados pelos não indígenas de “povos isolados”. Isso é muito importante pois eles são nossos parentes, vivem no nosso mesmo território, na mesma região. Durante esses dias, em uma conversa muito importante, tivemos muitas informações de outros parentes, pois nossos povos da floresta estão sofrendo com ameaças aos territórios, uma violência de danos ambientais, desmatamentos e exploração de minérios nos territórios. Foi muito bom estarmos aqui discutindo, é um espaço essencial de protagonismo, estamos construindo juntos e queremos ter esses dados de informações concretas e verdadeiras, para depois nós entregarmos essas informações aos órgãos públicos” disse Dário Kopenawa.

Angela Kaxuyana, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), ressaltou a importância do evento, pois fortalece as alianças entre as regiões e os estados, para, a partir dessa discussão a Coiab construir e fortalecer as estratégias de proteção a esses povos em sua atuação institucional.

“Esse momento marca um ciclo. Nesse momento de ataques aos direitos à vida dos povos indígenas isolados é necessário fortalecer ainda mais a nossa discussão, a nossa responsabilidade enquanto organizações indígenas, enquanto lideranças indígenas, e também marcar o posicionamento de que nós estamos vigilantes, estamos atentos diante desses ataques nos territórios indígenas. A partir desse encontro vamos levar a cobrança e a responsabilidade do estado para cumprir o seu papel que é o papel institucional de proteger a vida das pessoas, sobretudo os povos indígenas isolados da amazônia” Finalizou Kaxuyana.

Estavam presente no evento as organizações Univaja, Hutukara, Apia, Focimp, Aikatuk, Apim, Iepé, Cimi, Ois, Aimara, Apat e Guardiões da Floresta. O encontro é uma realização da Coiab, com apoio dos parceiros como o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), Land is life e Niatero.