A Covid19 adentrou nas regiões mais isoladas do Alto e Médio Rio Purus e ações integradas de atendimento à saúde são urgentes em municípios e terras indígenas em situação crítica, e em áreas com presença de povos indígenas em isolamento voluntário.
“Estamos no momento mais difícil que nós, povos indígenas, já vivemos na atualidade e precisamos somar forças” destacou a liderança Kaxarari Ari Ferreira Simão, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena (CONDISI), em reunião realizada no dia 19/06, entre a Coordenação Geral da Coiab, lideranças indígenas e técnicos do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Alto Purus. Na ocasião, Nara Baré reforçou a necessidade de uma força tarefa para ações integradas: “Somar esforços para salvar vidas!”.
Os territórios indígenas de Pauini, no Médio Purus, o município de Santa Rosa do Purus, onde boa parte da população é indígena, e as Terras Indígenas (TIs) Alto Rio Purus e Mamoadate foram indicadas, por lideranças e equipe técnica do DSEI Alto Purus, como as áreas prioritárias para o atendimento de emergência na região.Na aldeia Extrema, a última da TI Mamoadate subindo o alto rio Iaco, afluente do Purus, até a fronteira com o Peru, a situação está fora de controle. Praticamente, em todas as famílias Manchineri da comunidade têm pessoas apresentando sintomas. A partir da aplicação de testes rápidos, a equipe do DSEI confirmou 19 casos positivos. Porém, este número é provavelmente maior devido à margem de erro desse tipo de testagem.
Também foram confirmados casos positivos nas aldeias Alves Rodrigues, do povo Manchineri, e Betel, onde vivem indígenas Jaminawa, e na aldeia Vida Nova, na TI Cabeceira do Rio Acre, na fronteira com o Peru. Dois indígenas Manchineri que viviam na cidade de Assis Brasil já vieram a óbito pela Covid19.
O município de Santa Rosa do Purus, onde está localizada a Terra Indígena Alto Purus, é outra área crítica. Segundo o boletim do DSEI, atualizado até o dia 25/06, e com dados referentes a indígenas aldeados, são 18 casos confirmados, oito suspeitos e um óbito. A maioria dos casos está concentrado na aldeia Porto Rico, do Povo Huni Kuin. Na cidade localizada na fronteira com o Peru, as lideranças contabilizam 97 casos de indígenas contaminados e dois óbitos confirmados pela Covid19 entre o povo Huni Kuin.
A situação se torna ainda mais agravante pelo fato desta região fronteiriça ser habitada por grupos indígenas isolados conhecidos como Mashco ou Mashco-Piro. Em setembro de 2017, os moradores da aldeia Porto Rico, da TI Alto Purus, relataram o avistamento de um grupo índios isolados a cerca de três horas de caminhada. Em janeiro deste ano, os Manchineri da aldeia Extrema, da TI Mamoadate, encontraram vestígios dos Mashco, no pique de caçada, a somente uma 1 hora e 40 minutos da comunidade.
As terras indígenas localizadas no município de Pauini, no curso Médio do Rio Purus, no Sul do Amazonas, é a área mais crítica. Segundo o DSEI Alto Purus, são 92 casos confirmados entre indígenas que vivem nas comunidades até o dia 25/06. A Secretaria de Saúde da Prefeitura também divulgou dados de casos confirmados em aldeias localizadas nas TIs Peneri/Tacaquari, Catipari/Memoriá, Sãkoa/Santa Vitória e Kapyra/Kanakury (área reivindicada). A Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi já registrou duas mortes entre indígenas da região pela Covid19.
Unidades de Atenção Primária IndígenaDesde março, a Coiab está mobilizada na implementação de um Plano de Ação Emergencial de enfrentamento ao Coronavírus. “A ideia inicial era atender aos indígenas com cestas básicas, materiais de limpeza e higiene e equipamentos de proteção, como medidas de prevenção. Porém, com o avanço da doença nos territórios, e o grande número de mortes por complicações no sistema respiratório, a necessidade agora é apoiar a chegada de oxigênio nas aldeias.
“Ao longo de mais de três meses de pandemia, nosso plano emergencial foi se transformando na medida que fomos lidando com situações diferentes”, explica Nara Baré, Coordenadora Geral da Coiab. Nara explica ainda que as ações para a implantação de Unidades de Atenção Primária Indígena (UAPI), em parceria com as ONGs Expedicionários da Saúde e Greenpeace, precisam ser coordenadas com os DSEIs e as organizações locais.
A estrutura de uma UAPI é composta por: concentrador de oxigênio, cilindro de 50 ml de oxigênio, acessórios de oxigenoterapia, Kit de válvulas e fluxometros, gerador a diesel, colchão inflável, Kit EPI, e material para instalação.
Nas áreas onde já foram implementadas UAPIs, como as TIs de São Gabriel Cachoeira, no Amazonas, e a aldeia Missão Tiriyó, na TI Parque do Tumucumaque, no Pará, o fluxo de deslocamento dos indígenas para os centros urbanos diminuiu. Atualmente, também está sendo montada uma UAPI em uma aldeia do povo Kanamari, na TI Vale do Javari, na fronteira com o norte do Peru.
Francisco Apurinã, Assessor Indígena do CONDISI do Alto Purus chama a atenção para a necessidade de se pensar também na pós-pandemia:
“Teremos uma nova tarefa e um novo planejamento do DSEI. Nunca vivi algo como esse momento, e isso é muito delicado para as instituições envolvidas na defesa dos direitos dos povos indígenas”.