Formar lideranças para atuarem de forma eficaz em suas organizações, com habilidades para enfrentar os desafios da contemporaneidade. Esse é o objetivo do curso de Formação Estratégica para Lideranças Indígenas, promovido pela Coiab por meio do Centro Amazônico de Formação Indígena (Cafi). O curso reúne, até maio deste ano, 30 lideranças da Amazônia brasileira, que recebem formação em temáticas estratégicas para o movimento indígena.
A formação integra o projeto Redes Indígenas da Amazônia, que completa um ano de lançamento em 2025. Com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), através do Fundo Amazônia, o projeto é desenvolvido pela Coiab, em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) Brasil, com o intuito de promover estruturas, ferramentas e capacidades institucionais e técnicas para as nove organizações indígenas nos estados da Amazônia Legal, além da Umiab (União das Mulheres Indígenas da Amazônia).
Reunidos em Manaus durante três meses, as lideranças têm aulas divididas em 13 módulos, com temas que vão desde a história dos povos indígenas e o movimento indígena na Amazônia; passando por gestão ambiental e territorial; até o âmbito das mudanças climáticas, REDD+ jurisdicional, mercado de carbono e governança. A ideia é que os cursistas elaborem projetos de captação de recursos para suas organizações regionais de base, para serem apresentados a possíveis investidores e parceiros da Coiab.
As lideranças participantes do projeto também devem participar do Acampamento Terra Livre 2025, em uma mesa na tenda da Coiab, onde compartilharão suas experiências a partir de um novo olhar na luta por seus direitos e territórios.
O coordenador-geral da Coiab, Toya Manchineri, destaca a importância do componente de formação das lideranças no projeto Redes Indígenas da Amazônia: “Quando pensamos no projeto, tínhamos a ideia de fazer a formação para monitorar a PNGATI, mas acabamos fazendo algo maior, que é a formação das novas lideranças para que contribuam diretamente em seu território, na sua organização. Infelizmente temos poucos profissionais que conhecem a gestão pública, muitas organizações afundaram porque não souberam lidar com essas questões. Estamos formando lideranças da atualidade, que conhecem o seu passado, sua cultura, mas também conhecem o funcionamento do Estado, capazes de análise política, para levar a solução para os problemas do território”.
Toya ressalta ainda a paridade de gênero na formação, que reúne 15 homens e 15 mulheres, além de ter pessoas de diversas faixas etárias. “São 30 lideranças, dos mais jovens aos mais velhos, homens e mulheres. Isso é importante para nós, enquanto movimento coletivo, incentivar a inclusão da juventude e das mulheres”, disse.
Segundo Fernando Bittencourt, Coordenador do Projeto Redes Indígenas na TNC Brasil, “Investir na formação de lideranças indígenas é crucial para fortalecer o movimento indígena e garantir a defesa do clima no planeta. Essas formações capacitam as lideranças a desenvolver e implementar estratégias eficazes de gestão territorial e ambiental, essenciais para a proteção dos territórios indígenas e a mitigação das mudanças climáticas. Diversos povos indígenas na Amazônia já desenvolveram seus Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs). Vemos como essas ferramentas são vitais para a conservação da biodiversidade e a promoção de práticas sustentáveis. Ao fortalecer as capacidades institucionais e técnicas das organizações indígenas, estamos não apenas promovendo a autonomia e o bem-estar das comunidades, mas também contribuindo significativamente para a luta global contra a crise climática.”

Foto: Jakeline Xavier
Próximos passos
Está previsto ainda a realização de um curso de formação para Agentes de Monitoramento Indígenas (AMI), que será coordenado pela Gerência de Monitoramento Territorial Indígena (GEMTI) da Coiab. A ideia é que a rede Coiab e a Umiab tenham estruturas, ferramentas e técnicas consolidadas para acesso e controle social na implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), programas climáticos, além de fundos públicos e privados.
O projeto atua em quatro linhas. O primeiro componente consiste no aprimoramento e aplicação de ferramentas indígenas para o monitoramento participativo dos resultados da PNGATI, da execução dos Planos de Gestão Territorial e Ambiental e demais Programas Climáticos. Na segunda linha, está previsto o fortalecimento de estruturas de governança participativa indígena, incluindo as nove organizações indígenas estaduais da rede Coiab e a Umiab. No terceiro componente está previsto a realização de formações pelo Cafi, incluindo cursos de extensão e de longa duração, além dos cursos de especialização. Por último, será realizada a consolidação da estrutura da Coiab e organizações indígenas da Amazônia. Este item inclui a reforma e estruturação da sede da Coiab, apoio para despesas de logísticas, consulta jurídica, entre outros
Organizações participantes
Participam do projeto, além da Umiab, as nove organizações indígenas que compõem a rede da Coiab são: Articulação dos povos e organizações indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP), Articulação dos Povos Indígenas do Amazonas (APIAM), Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins (ARPIT), Conselho Indígena de Roraima (CIR), Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (FEPOIMT), Federação Estadual dos Povos Indígenas do Pará (FEPIPA), Movimento Indígena do Acre, e Organização dos Povos Indígenas de Rondônia e Noroeste do Mato-Grosso (OPIROMA).
“A formação está sendo muito proveitosa para nos ajudar na tomada de decisões e para levar conhecimento, aprendizagem e fortalecimento a nossas bases. Eu ouvia falar muito da Coiab e do trabalho que eles realizam, mas agora tenho a oportunidade de conhecer mais de perto, por meio deste curso. Isso significa muito para mim, estou tendo várias trocas de experiências com outros povos, de outros estados, com diferentes desafios a superar”.
Jucimery Tariano – Coordenadora do Departamento de Adolescentes e Jovens Indígenas da FOIRN
Terra Indígena Alto Rio Negro (AM)

Foto: Jakeline Xavier
“Essa formação que a Coiab está nos proporcionando por meio do Cafi é muito importante pois nos traz uma nova visão, pensamento e olhar sobre as diversidades existentes em nossos territórios, principalmente na incidência política. Faz a gente entender a importancia de buscar mais conhecimento para podermos de fato lutar e defender nosso povo, direitos e territórios”.
Wendel Apurinã – Coordenador executivo da Organização da Juventude Indígena de Lábrea do Médio Rio Purus (OjilMRP)
Lábrea (AM)
Foto de capa: Jakeline Xavier