“Quem é vacinado, mesmo que pegue COVID-19, não fica grave, não precisa de hospital e nem de UTI”

Médico sanitarista Douglas Rodrigues responde a dúvidas sobre a COVID-19 e reforça a importância da vacinação entre os povos indígenas   

Publicada em: 22/03/2021 às 02:00

A desinformação é um dos problemas que vem agravando de maneira séria a pandemia da COVID-19 no Brasil.

Além de todas as incertezas de lidarmos com uma nova doença, a disseminação de notícias falsas ou tendenciosas vem comprometendo os diversos esforços que precisamos fazer para erradicá-la – como o isolamento social, a vacinação em massa e o uso de máscaras.

Essa realidade não é diferente para os povos indígenas, que têm que lidar ainda com missionários que vêm, de maneira criminosa, atrapalhando a vacinação de comunidades no interior da Amazônia.

Para minimizar essa desinformação, convidamos um dos maiores médicos indigenistas do País, o sanitarista Douglas Rodrigues, para responder algumas das perguntas mais comuns sobre a COVID-19 e as vacinas que existem hoje no mundo.

As perguntas foram elaboradas por jovens comunicadores indígenas que participam do projeto PIACC – Povos Indígenas da Amazônia Contra a COVID-19; e que foram colhidas junto a seus familiares e conhecidos, moradores de aldeias e comunidades. Por isso, acreditamos que elas refletem muitas das dúvidas que os parentes têm hoje sobre esses assuntos.

1 – Por que a vacina saiu tão rápido?
Por três razões: 1) já havia vacinas contra outros tipos de coronavírus em desenvolvimento, como SARS e MERS. As plataformas foram redirecionadas para o novo coronavírus; 2) Mais de 260 grupos de pesquisadores desenvolveram pesquisa para as vacinas ao mesmo tempo e houve muita colaboração entre esses grupos; 3) A magnitude da pandemia exigia a máxima urgência no desenvolvimento das vacinas, pois as vacinas são a melhor forma de controlar a pandemia.

2 – A vacina vem da China, onde o coronavírus surgiu?
As vacinas estão sendo produzidas em diferentes países como na China, Índia, Rússia, Cuba, Estados Unidos e Inglaterra. Aqui no Brasil também estamos fazendo as vacinas, no Butantan, em São Paulo (SP), e na Fiocruz, no Rio de Janeiro (RJ). Essas duas usam matéria-prima que é fabricada na China. No ano que vem, se tudo correr bem, também vamos fabricar esses insumos e seremos autossuficientes nessas duas vacinas que estamos usando hoje, que são a Coronavac, do Butantan; e a Covishield/Oxford da Fiocruz.

3 – O que tem dentro da vacina?
Depende da vacina. Aqui no Brasil estamos usando dois tipos, por enquanto:

A Coronavac tem o vírus da COVID-19 inativado. Um vírus inativado não consegue produzir a doença quando entra em nosso corpo, mas nosso corpo consegue produzir as defesas contra esse vírus. Quando a pessoa é vacinada ela passa a produzir anticorpos (defesas) contra o novo coronavírus. No caso da Coronavac, isso acontece duas semanas após a segunda dose, que tem que ser dada entre duas semanas e um mês depois da primeira. Por isso, quem é vacinado, mesmo que pegue COVID-19, não fica grave, não precisa de hospital e nem de UTI. Essa é a vacina que está sendo usada pelos Distritos de Saúde Indígenas (DSEIs).

A Covishield tem alguns pedaços do vírus da COVID-19 dentro de um outro vírus, chamado adenovírus, que na natureza produz um resfriado comum em chimpanzés. Esse adenovírus (que é chamado de vetor viral) é inativado e dentro dele são colocados pedaços do novo coronavírus, que é o responsável pela COVID-19. Da mesma forma que na Coronavac, quando a vacina com pedaços do novo coronavírus é injetada em nosso corpo, depois de um tempo (no caso da Covishield, cerca de um mês) nós começamos a produzir anticorpos. Essa vacina também precisa de uma segunda dose de reforço, que pode ser aplicada entre dois e três meses depois da primeira dose.

4 – A vacina é eficaz contra as variações do COVID-19?
Até agora os estudos têm mostrado que essas vacinas são eficazes contra as três variantes que causam preocupação: a do Reino Unido, a da África do Sul e a brasileira. Os estudos mostram que a eficácia pode ser menor, mas permanece sempre dentro dos parâmetros adequados.

5 – Por que existe mais de uma vacina? Todas são eficazes?
Porque muitos grupos de pesquisadores estão produzindo vacinas. Todas as vacinas aprovadas pela ANVISA e pelos órgãos controladores dos países fabricantes tem se mostrado eficazes, o que é muito bom.

6 – Os indígenas estão sendo considerados nos testes da vacina?
Não. Os testes da Coronavac e da Covishield foram feitos em profissionais de saúde, porque são as pessoas de maior risco de pegar a COVID-19 porque estão cuidando dos doentes nos hospitais.

7 – A vacina produz alguma variação da doença? É seguro tomar?
Ainda que tenham sido produzidas em tempo recorde, as vacinas passaram por todas as etapas de fabricação de uma vacina e foram seguidos todos os protocolos de segurança em sua concepção e produção. As vacinas são eficazes.

8 – A vacina deixa a gente doente?
Não. Mas é importante saber que, mesmo que você tome a vacina, ainda pode pegar a COVID-19. Entretanto, os estudos mostraram que aquelas pessoas vacinadas que pegaram a COVID-19, mesmo sendo do grupo de risco, não tiveram formas graves da doença, não precisaram ir para hospitais e não precisaram de UTI.

9 – Mulheres grávidas e crianças não podem tomar a vacina?
As crianças ainda não porque não foram incluídas nos testes e porque normalmente não desenvolvem formas graves da COVID-19; além disso, são pouco transmissoras. As grávidas, por serem grupo de risco, estão liberadas para tomar a vacina Coronavac, conforme recente decisão do Ministério da Saúde.

10 – Indígenas morreram depois de vacinar com a Coronavac?
Não. Ninguém, em nenhum lugar do mundo, morreu por ter tomado as vacinas contra a COVID-19 – nem a Coronavac e nem a Covishield.



Este material faz parte da campanha #AmazôniaVacinada[/b], desenvolvida pela COIAB e que tem o objetivo de reforçar a vacinação dos povos indígenas na Amazônia e combater notícias falsas e desinformação.
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