Povos indígenas da Amazônia debatem em Brasília meios e estratégias de proteção dos territórios

Publicada em: 19/09/2023 às 00:00

Mantenedores da floresta em pé e principais aliados do enfrentamento à mudança climática, os povos indígenas da Amazônia vivem em constante ameaça às suas terras, modos de vida e culturas.

O Seminário de Monitoramento e Proteção Territorial de Terras Indígenas que começou nesta terça-feira (19) em Brasília e segue até quinta-feira (21), promove um espaço de intercâmbio sobre as diversas iniciativas de proteção e monitoramento que vêm sendo desenvolvidas por organizações indígenas na Amazônia brasileira, em resposta a um quadro de crescentes pressões sobre os territórios que mais conservam a biodiversidade no planeta. Mineração, garimpo, extração de madeira ilegal, narcotráfico e grandes empreendimentos estão entre as principais ameaças.

A iniciativa é da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), com diversos apoiadores e parceiros. Ao final do evento, será produzida uma nota pública com recomendações para o enfrentamento das questões debatidas.

A abertura do evento contou com a presença da presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joênia Wapichana, o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e a secretária de Povos e Comunidades Tradicionais e Desenvolvimento Rural Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Edel Moraes, representando o governo federal.

  • Fortalecer as iniciativas de monitoramento e proteção de territórios indígenas na Amazônia como elementos centrais de sua gestão e governança;
  • Orientar e elaborar recomendações para políticas públicas, para a cooperação internacional e para o próprio movimento indígena sobre monitoramento, proteção e governança territorial;
  • Conectar as iniciativas, suas lideranças, gestores e assessorias.
[/ml]Segundo o coordenador do Programa Povos Indígenas do IEB, Cloude Correia, o Seminário será um marco para as ações nas terras indígenas da Amazônia brasileira e para a garantia dos direitos dos povos indígenas.

“Por meio de um olhar abrangente, com troca de experiências diversas, pretende-se constituir uma comunidade de prática atenta para fortalecer e multiplicar as iniciativas existentes, para produzir recomendações voltadas a implementação das políticas públicas, para ampliar o protagonismo indígena no diálogo com as instâncias governamentais e para reduzir as crescentes pressões e ameaças sobre os territórios indígenas”, afirma.

Já o coordenador-geral da COIAB, Toya Manchineri, destaca o caráter de troca e intercâmbio de experiências que o seminário vai proporcionar. “Temos vários modelos que precisam se conectar, então vamos iniciar essas conectividades na Bacia Amazônica e desenhar um modelo para a Amazônia brasileira, que não ficará apenas nas questões ambientais, mas também em políticas públicas”.
A gerente de Monitoramento Territorial Indígena da COIAB, Vanessa Apurinã, espera que o seminário possa inspirar ações concretas para melhorar o monitoramento e a proteção de territórios nas diferentes regiões, por meio de colaboração e do desenvolvimento de habilidades de monitoramento e proteção dos territórios.

“É importante a participação dos parceiros e órgãos do governo para que os parentes saibam mais sobre a proteção dos seus territórios e possam gerar oportunidades para se conectar com outros profissionais da área e estabelecer contatos valiosos”, ressaltou ela.

Direitos territoriais e crise climática

Durante a Cúpula da Amazônia em agosto, em Belém do Pará, povos indígenas de seis países amazônicos entregaram uma carta aos representantes e Chefes de Estado presentes e aos que vão participar da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP-28), em dezembro deste ano, em Dubai. Um trecho da carta diz:
“Reafirmamos que a melhor forma de frear e solucionar a crise climática global é dar ouvidos aos povos indígenas. Sabemos o que dizemos e não somente nós: segundo a ONU, mesmo representando apenas 5% da população mundial, preservamos cerca de 80% da biodiversidade do mundo. Isso decorre de nossa cosmovisão; não nos limitamos a enxergar somente o que está ao alcance de nossas vistas, mas além.

As florestas tropicais são as barreiras terrestres mais eficientes contra o avanço das mudanças climáticas. Sem nós, não haverá Amazônia; e, sem ela, o mundo que conhecemos não existirá mais. Porque nós somos a Amazônia: sua terra e biodiversidade são o nosso corpo; seus rios correm em nossas veias. Nossos ancestrais não só a preservaram por milênios, como ajudaram a cultivá-la. Vivemos nela e por ela. E, ao longo dos séculos, temos dado nossas próprias vidas para protegê-la”.