O Covid19 e a situação emergencial dos povos indígenas na Amazônia brasileira

Contaminações e mortes pelo Coronavírus aumentam a cada dia colocando em grave risco a vida dos nossos parentes

Publicada em: 27/04/2020 às 17:16

O número de casos de contaminação e falecimento pelo Coronavírus entre as populações indígenas na Amazônia brasileira aumenta a cada dia, colocando em grave risco a vida dos nossos parentes. Dados levantados diariamente pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) revelam quatro novos casos de óbitos de indígenas na última semana.

No dia 20 de abril, fomos informados pelo Yuri Ticuna sobre o falecimento do seu tio, Abezio Flores Salvador Ticuna, militar com cerca de 50 anos, que estava doente e internado em hospital de Manaus. Quatro dias depois, chegaram notícias de mais dois falecimentos: Domingos Baré, da comunidade Nova Esperança, faleceu em Manaus, e Raimundo Quirino Ramos Ticuna, técnico de enfermagem, no Alto Solimões. Ontem, dia 26, a notícia da morte de uma indígena de 35 anos do povo Palikur, no Amapá, foi confirmada.

Valéria Paye, Assessora Política da Coiab, explica que quando o Coronavírus estourou no Brasil foi iniciado um processo de acompanhamento dos casos a partir da análise da situação de 25 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI), e em nove estados da Amazônia.“A Sesai começou a soltar seus Boletins Informativos e rapidamente percebemos que os dados não estavam de acordo com o que as lideranças e indígenas profissionais de saúde estavam reportando para a Coiab, pois os casos de indígenas que vivem nas cidades não estão sendo registrados”.

A liderança do povo Kaxuyana, no Pará, destaca ainda: “O que enfrentamos hoje é a discriminação do atendimento aos indígenas nesta divisão entre os que moram nas comunidades e os que vivem em contextos urbanos, como estudantes das escolas e universidades. Essa discriminação não ajuda no combate à doença, pois não existe um controle dos parentes da cidade que estão voltando para as aldeias. Também temos dificuldade na disponibilidade de testes, que não atende as necessidades dos DSEIs”.

Hoje, a Coiab contabiliza 15 óbitos de indígenas por Covid19. São 14 mortes entre indígenas brasileiros, e um caso entre o povo Warao, que vem migrando da Venezuela para o Brasil. O Ministério da Saúde conta apenas quatro falecimentos. Existe também disparidade entre os dados dos casos positivos. Segundo informações da Sesai, atualizadas até o dia 25 de abril, existem 47 casos confirmados na Amazônia, o que difere do levantamento da Coiab que aponta ao menos nove casos a mais da doença.

Não estamos falando apenas de dados, mas de nossas vidas”, afirma Ângela Kaxuyana, Coordenadora Tesoureira da Coiab, explicando ainda que foi construído um plano de ação emergencial para o enfrentamento ao avanço do Covid19, a partir de informações levantadas com organizações de base e lideranças. Seu objetivo é contribuir com os povos indígenas, os órgãos governamentais responsáveis pela saúde e proteção dos nossos territórios, e as organizações da sociedade civil, buscando evitar casos de surto da doença em nossas comunidades.

Assessoria de Comunicação da Coiab