NOTA DE REPÚDIO PELO ASSASSINATO DE TADEO KULINA

Publicada em: 28/03/2024 às 01:00

A Coordenação das Organizações Indígena da Amazônia Brasileira (Coiab) e o movimento indígena do Amazonas, representado pela Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam), vêm por meio de nota manifestar repúdio ao descaso e omissão que resultaram na morte do indígena Tadeo Kulina (33), na cidade de Manaus. Há 50 dias do ocorrido, ainda não temos respostas sobre a autoria do crime.

Tadeo e sua esposa, Corima Kulina, foram transferidos para a capital do Amazonas, no dia 1º de fevereiro, em razão de complicações na gravidez enfrentadas por ela. Os indígenas do povo Madija Kulina, foram atendidos na Maternidade Ana Braga, onde o parto foi realizado. A mãe e a criança ficaram internados e se recuperaram bem.

Conforme informações da Frente Amazônica de Mobilização em Defesa os Direitos Indígenas (FAMDDI), Tadeo desapareceu no dia 6 de fevereiro. Segundo os parentes, ele não conhecia a cidade de Manaus e compreendia pouco o português. Apesar desses fatos, os dois ficaram sozinhos na maternidade. O corpo de Tadeo, que era indígena de recente contato, foi encontrado dias depois, com sinais de espancamento na cabeça e com o rosto desfigurado, no Instituto Médico Legal (IML). Tadeu era morador da aldeia Foz do Acuraua, no município de Envira (AM).

O crime ainda não foram elucidados e os responsáveis por este assassinato brutal ainda não foram identificados e responsabilizados. A morosidade e a impunidade favorecem a continuidade da prática de violência contra os povos indígenas. Vidas indígenas ainda são ceifadas e suas memórias apagadas sem qualquer tipo punição para quem comete tais crimes.

É necessário que o Estado Brasileiro tenha políticas públicas efetivas para povos isolados e de recente contato. Sendo lhes garantido os artigos 231 e 232 da Constituição Federal, de forma que suas singularidades sejam respeitadas e que sejam tratados com dignidade.

Em janeiro deste ano, a Coiab e outras organizações indígenas entregaram uma carta para o Ministério da Saúde, solicitando a criação de um departamento específico de atenção à saúde dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato dentro da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Na ocasião, a carta foi entregue para o Dr. Lucas Infantozzi Albertoni, responsável técnico pela pauta Povos Isolados e de Recente Contato (PIIRC) na Sesai, que estava presente no encontro Corredores Transfronteiriços Brasil-Peru que aconteceu entre os dias 29 a 31 de janeiro, em Rio Branco (Acre).

Durante o encontro, as lideranças e organizações indígenas relataram aos representantes da Sesai as dificuldades enfrentadas desde seus territórios para acessarem a saúde pública.

Os Madija Kulina estão enquadrados nesta triste realidade e são submetidos pelo Estado Brasileiro a índices muito graves de vulnerabilidade. A morte de Tadeo Kulina evidencia que é urgente haver um atendimento especial e dedicado a populações de alta vulnerabilidade, como a dos Madija Kulina. Exigimos justiça!