Nota de pesar – Papa Francisco

Por: Coiab

Publicada em: 21/04/2025 às 18:09

“Devemos escutar mais os povos indígenas e aprender com seu modo de vida a fim de compreender adequadamente que não podemos continuar devorando avidamente os recursos naturais”.

Papa Francisco

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) manifesta seu pesar pela passagem do Papa Francisco, ocorrida neste 21 de abril de 2025. Nascido Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, capital da Argentina, em 1936, Francisco foi o primeiro papa latino-americano, destacando-se por sua humildade e dedicação aos mais pobres. Ao longo de seu pontificado, o Papa falou abertamente a favor da preservação da Amazônia e dos direitos dos povos indígenas, defendendo a importância de aliar os conhecimentos indígenas e a ciência no combate aos efeitos das mudanças climáticas. Foi um dos poucos líderes religiosos de alcance global a abrir espaço para escutar as lideranças indígenas.

O grande marco da defesa do líder da Igreja Católica foi a realização do Sínodo da Amazônia, na cidade do Vaticano, em outubro de 2019. Foi a primeira assembleia eclesiástica dedicada a falar sobre as questões relacionadas à maior floresta tropical do mundo. Nela, lideranças indígenas da Amazônia juntaram-se a bispos, pastores, missionários e religiosos para falar sobre a situação da Igreja na região amazônica, meio ambiente, povos indígenas e ribeirinhos. Foi um espaço de escuta, reflexão e debate sobre a crise ecológica que atravessa o bioma.

O documento final do Sínodo da Amazônia abordou o bem viver dos povos indígenas e sua relação intrínseca com a natureza e o território; elencou as graves ameaças socioambientais que afetam os indígenas, desde o desmatamento até a exploração predatória da floresta e a migração forçada de indígenas de seus territórios; por fim, defendeu “alternativas de desenvolvimento ecológico integral a partir das cosmovisões construídas com as comunidades, resgatando a sabedoria ancestral.”

A defesa da Amazônia e dos povos indígenas ecoou em outros discursos e documentos de autoria do Papa Francisco. “O diálogo aberto entre o conhecimento indígena e as ciências, entre as comunidades de sabedoria ancestral e as das ciências, pode ajudar a enfrentar questões cruciais como a água, as mudanças climáticas, a fome e a biodiversidade de uma forma nova, mais integral e mais eficaz”, discursou ele durante a conferência ‘O Conhecimento dos Povos Indígenas e as Ciências’, ocorrida em março de 2024 no Vaticano.

O reconhecimento feito pelo Papa Francisco sobre a importância dos povos originários foi um gesto necessário de valorização e visibilidade aos indígenas que foram historicamente violentados, diversas vezes pela própria Igreja Católica. Ao reconhecer o valor da sabedoria ancestral, o Papa destacou a relevância dos conhecimentos tradicionais como parte essencial no enfrentamento da crise climática. Ao denunciar abertamente as ameaças e violências enfrentadas pelos povos indígenas, o Papa lançou um novo olhar para a Amazônia, voltado para seus guardiões, renovando a luta por um mundo mais justo para todos os povos.

Isso demonstrou a vontade do Papa Francisco de cultivar uma Igreja mais inclusiva, que reconhece e respeita as culturas e modos de vida indígenas, deixando um legado de defesa de direitos indígenas.

Ao mesmo tempo que lamenta a perda de um defensor tão necessário das vozes indígenas, a Coiab também deseja que o próximo Pontífice escolhido mantenha o entendimento de seu antecessor sobre a importância da defesa da Amazônia e dos povos indígenas para a preservação do bioma e para o futuro da humanidade. Seguiremos honrando o legado deixado por Francisco e nos somando à luta por um mundo onde os saberes ancestrais e os direitos dos povos indígenas sejam respeitados e valorizados.