Nota de Pesar – Indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips

Publicada em: 16/06/2022 às 14:40

Com profunda indignação e tristeza, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) lamenta o atentado às vidas do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, pegos por criminosos no dia 5 de junho, na região do Vale do Javari no estado do Amazonas.

Manifestamos nosso total apoio às famílias de Bruno e Dom, e nossa imensa gratidão pelo trabalho que vinham realizando para defender os nossos direitos e territórios, bem como os dos povos indígenas isolados e de recente contato. Nós, da Coiab, sabemos o quanto eles dedicaram suas vidas para defender essa causa.

Destacamos todo apoio e respeito ao trabalho feito pela Univaja, que desde o início do desaparecimento estava na linha de frente das buscas na região. Em nota de 15/06/22, confirmaram esta tragédia e destacaram papel importante de Pereira e Phillips como defensores de Direitos Humanos.

Bruno Pereira, indigenista experiente e um grande aliado da luta pelos direitos dos povos indígenas, atuou durante mais de 10 anos na região do Vale do Javari. Em 2018, assumiu a Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato (CGIIRC), chefiando importantes expedições de localização de vestígios desses povos e também ações de fiscalização e de denúncia de invasores nas terras indígenas da Amazônia, Bruno também colaborava com a organização indígena Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) no planejamento de ações de proteção do território.

Dom Phillips, jornalista britânico que escreveu para diversos veículos internacionais, dentre eles o The Guardian, visitava a região para entrevistar indígenas como parte de sua pesquisa para a escrita de um livro.

Declaramos aqui nossa gratidão pelos esforços dos povos indígenas que vivem na Terra Indígena Vale do Javari, amigos de Bruno e que estiveram nas buscas. Foram cerca de cem voluntários, que se empenharam de coração, localizando os seus vestígios e encontrando as principais pistas. Todas as ações de buscas se desdobraram a partir do trabalho indígena, que foi fundamental para encontrar algumas respostas. Jamais esqueceremos o trabalho feito pelos nossos parentes Matis, Kanamari, Marubo, Kulina e Mayoruna, que não mediram esforços para desbravar as matas guiados pelos nossos ancestrais.

Total respeito e reconhecimento a todos que incansavelmente estavam a 11 dias nas buscas no mato e nos outros espaços de ação conjunta, às lideranças que tiveram o papel de pressionar os órgãos de segurança, as organizações indígenas, a comunicação, a atuação jurídica, e toda essa corrente incansável de esforços. Jamais esqueceremos o trabalho e a dedicação de cada indígena e dos nossos aliados não-indígenas em mais essa batalha.

Externamos ainda nosso sentimento de indignação por toda a brutalidade do assassinato de nossos parceiros de luta e de tantas outras brutalidades contra a vida de lideranças indígenas, ativistas e apoiadores da causa indígena. Esses atentados não ficarão impunes. Nós, povos e organizações indígenas permaneceremos vigilantes e cobrando o estado brasileiro para que se faça justiça. As perseguições por defensores da Amazônia têm aumentado no Brasil sob o Governo Bolsonaro. Nossos territórios estão constantemente sendo invadidos por garimpeiros, madeireiros, narcotraficantes, pescadores, caçadores e grileiros. Não podemos continuar vivendo sob ameaças. Exigimos o aprofundamento e a ampliação das investigações desse crime brutal e a fiscalização efetiva na Terra Indígena Vale do Javari. Seguiremos lutando pela Vida e pela Justiça nesse país.

Amazônia, Brasil, 16 de junho de 2022.
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira