Mãe e bebê do povo Manchineri enfrentam cinco dias de sofrimento em espera por resgate

A Associação MAPPHA denunciou o sofrimento da gestante, em busca de apoio para a remoção por via aérea. Após 5 dias, o parto foi realizado. Mãe e bebê passam bem.

Publicada em: 10/02/2023 às 19:00

Durante cinco dias, uma mulher do povo Manchineri, do Acre, enfrentou um pesadelo no momento do parto. No dia 6 de fevereiro, Marileide Manchinery, de 35 anos, entrou em trabalho de parto, na aldeia Santa Cruz, Terra Indígena Mamoadate, onde vive. A parteira foi chamada, realizou todo o processo de auxílio ao nascimento, porém, o bebê estava sentado, dificultando o parto normal.

Ao perceber que o nascimento não seria possível devido à falta de recursos especializados na comunidade, o Agente de Indígena de Saúde (AIS) solicitou o resgate ao Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Purus (DSEI Alto Purus), quando foi informado que o DSEI já não tinha horas de voo. O governo do Acre foi contatado, mas também deu resposta negativa, informando que as aeronaves do Sistema Único de Saúde (SUS) estavam em manutenção. Em período de chuvoso, o ramal do Icurião fica intrafegável, tendo como rota de saída apenas um trajeto de barco que dura dois dias até o município de Sena Madureira (AC).

Ao longo da semana, a situação da parturiente piorou. Na terça-feira, 7, a parteira informou acreditar que o bebê já havia falecido, por não se mexer mais na barriga da mãe. A Associação Manxinerune Ptohi Phunputuru Potshi Hajene (Mappha) denunciou a situação, em busca de apoio para viabilizar a remoção de Marileide.

Com todo esse tempo de espera, a preocupação da comunidade e da Mappha era que, caso o bebê tivesse falecido na barriga da mãe, Marileide tivesse complicações ainda mais graves e também falecesse. Somente na quinta-feira, 9, uma equipe composta por bombeiros, enfermeiro e técnico de enfermagem se deslocou até a aldeia de barco. Conforme a Mappha, o parto aconteceu na manhã do dia 10 de fevereiro, a mãe e o bebê passam bem.

O caso de Marileide evidencia a fragilidade da assistência de saúde aos povos indígenas. É necessário conhecer as necessidades dos territórios, como os acessos ficam a cada período, quais as principais dificuldades e fortalezas em cada território. Marileide e sua comunidade tiveram ajuda negada pelo Dsei, pelo Estado do Acre e pela prefeitura de Assis Brasil. O resgate chegou apenas após o nascimento do bebê.