Indígenas do povo Munduruku do Médio e Alto Tapajós ocupam sede da Funai em Brasília

Indígenas realizaram mais uma tentativa de serem atendidos pela presidência do órgão. Uma reunião foi agendada para esta sexta-feira

Publicada em: 17/06/2021 às 01:00

Indígenas do povo Munduruku, do Médio e Alto Tapajós, no Pará, ocuparam a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai), na tarde desta quinta-feira (17) em mais um ato da mobilização Levante Pela Terra, iniciado há uma semana. Vivenciando uma onda de violência na região, os Munduruku reivindicam o fim do garimpo ilegal nas terras indígenas, a demarcação das terras e a segurança nas comunidades.

Após três dias de viagem de ônibus, a delegação do povo Munduruku chegou a Brasília na manhã desta quinta-feira (17). Ao todo são 85 indígenas que chegam para somar esforços às lideranças que já estão mobilizadas desde o dia 8 de junho.

A cidade de Jacareacanga, onde vive parte dos Munduruku, foi cenário de um grave conflito, agravado no final do mês de maio, protagonizado por garimpeiros ilegais que atuam na região e que resultou em ataques às comunidades indígenas. Após esses frequentes conflitos, ataques e intimidações, por determinação do Ministério Público Federal (MPF), a delegação precisou ser escoltada pela Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar do Pará para deixar o município e seguir viagem à capital federal.

Nesta quinta-feira, um grupo de cinco lideranças, entre eles Alessandra Munduruku, acompanhados da subprocuradora geral da república e coordenadora da 6ª Câmara, Eliana Torelly, chegou a ser atendido pela assessoria técnica da Funai, porém na ausência do presidente da Funai, Marcelo Xavier, cujo as lideranças pedem a saída do cargo. Todo o encontro foi registrado em vídeo e compartilhado nas redes sociais de Alessandra[/url].

“Vim acompanhá-los porque era uma reunião com o presidente Marcelo Xavier, na verdade eles já tinham informado que subiriam apenas para pedir que o presidente descesse e conversasse com eles, uma vez que não pode subir todo mundo. Nós gostaríamos que houvesse a flexibilidade da Funai, no sentido de ir lá e conversar, dialogar com eles que vieram de tão longe”, argumentou a subprocuradora.

No vídeo compartilhado por Alessandra, um grupo de cinco mulheres, caciques e lideranças justificam a necessidade de um diálogo com a presidência da Funai, porém, o diretor de proteção territorial substituto, Alcir Amaral Teixeira, atendeu a um grupo de 20 lideranças no saguão do prédio.

“Sou uma estrangeira dentro da Funai, é a primeira vez que sinto isso ao estar aqui.Aqui está cheio de polícia, mas na comunidade tem gente morrendo, tem criança morrendo. Nós estamos em uma guerra. A Funai era para proteger, mas não está fazendo seu papel”, afirmou Alessandra.

Uma nova reunião foi agendada para esta sexta-feira (18), dessa vez com o presidente da Funai. Até o dia de hoje, mais de 850 indígenas de 43 povos se encontravam na capital federal.

O assessor jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Eloy Terena, afirmou que esta é a primeira vez na história das políticas indigenistas que um presidente da Funai não recebe uma delegação indígena.

“A delegação da pauta dos Munduruku está no Supremo Tribunal Federal. Todos os dias está nos jornais. Eles viajaram mais de 48 horas. Saíram sob escolta policial, por força de decisão judicial. Eles não tem paz. E ainda chegam aqui e não são atendidos pelo presidente. Isso é algo histórico. Em 30 anos de política indigenista isso nunca aconteceu. O que é mais grave, nós sabemos que vocês são uma gestão nova, mas nossos direitos não podem ter interferência política. Por que o presidente tira foto com ruralista com o pessoal da mineração e não com os indígenas? A razão de existir da Funai e vocês estarem aqui somos nós”, ressaltou Eloy Terena ao assessor técnico da Funai.