A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), por meio do Centro Amazônico de Formação Indígena (CAFI), recebeu representantes do Foro Internacional de Mujeres Indígenas (FIMI) para discutir o progresso das iniciativas de revitalização e fortalecimento das mulheres indígenas na região amazônica. A reunião ocorreu no dia 24 de outubro e contou com a participação da Coordenação Executiva, do CAFI e da Gerência de Projetos da COIAB, além das representantes do FIMI, Margarita Antonia e Sol Gonzalez.
Durante o encontro, o CAFI apresentou as atualizações do projeto “Revitalização e Fortalecimento de Mulheres Indígenas na Amazônia Brasileira”, realizado em parceria com o FIMI. A iniciativa visa ampliar a participação e a influência das mulheres indígenas em espaços políticos estratégicos, incentivando sua participação ativa em debates nacionais e internacionais sobre questões de gênero. Além disso, busca dar visibilidade aos desafios enfrentados pelas mulheres indígenas na Amazônia, promovendo uma maior conscientização e ação sobre esses temas.
Para isso, o CAFI tem executado uma série de ações, como a revitalização e fortalecimento das atividades políticas das mulheres indígenas e a consolidação de um planejamento estratégico para nortear ações futuras. Para a agente de projetos de gênero da Coiab, Wauana Manchineri, esses foram os maiores ganhos do projeto até o momento. “A principal conquista do projeto foi fazer o alinhamento com as mulheres indígenas para propor a criação desse plano de ação das atividades. Para isso, nos reunimos presencialmente em Brasília, em abril, para fazer um mapeamento das principais necessidades das mulheres indígenas que vivenciam diariamente. Um dos pontos que saíram nessa discussão foi a questão da saúde e das violências que as mulheres indígenas sofrem ao buscar atendimentos”.
Wauana também destacou outros ganhos, como a participação de mulheres em mobilizações e eventos no âmbito nacional e internacional, ecoando suas vozes para defender os direitos das mulheres e povos indígenas. Entre eles, o Acampamento Terra Livre que, pela primeira vez, teve a maior incidência de meninas e mulheres nas plenárias, e o “II Seminário Temático Meninas e Mulheres no Protagonismo da Justiça Climática”, resultado da articulação entre o CAFI e o Ministério das Mulheres.
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Outro ponto abordado durante a reunião foi a capacitação das mulheres indígenas por meio de formações que ampliam seus conhecimentos tradicionais e habilidades técnicas. Desde a sua retomada, em 2023, o CAFI garante a participação das mulheres indígenas no processo de formação. Para além das formações exclusivas para mulheres, o centro também se compromete na paridade de gênero em todas as propostas de cursos que organiza. A qualificação dessas mulheres contribui na autonomia e incidência na defesa dos direitos pelo território, geração de renda, além do enfrentamento à crise climática e demais violências.
Para a consultora de projetos do FIMI, Sol González, o processo de fortalecimento das mulheres indígenas da Amazônia Brasileira é crucial para a garantia de direitos de meninas e mulheres, assim como seus territórios. “Esse apoio para o desenvolvimento de processos formativos das mulheres, especialmente em lideranças, é fundamental, pois traz visibilidade ao papel das mulheres indígenas na conservação da cultura e, principalmente, dos territórios. Mesmo com a invisibilidade histórica, vemos que elas têm um papel essencial na tomada de decisões dentro dos territórios, com uma crescente participação em espaços políticos, especialmente nas organizações indígenas da Amazônia brasileira”, reflete.
Gonzales também destacou o impacto positivo na vida das mulheres indígenas. “O fato de conseguirmos aumentar essa representação, que atualmente alcança 64 etnorregiões onde a COIAB e a UMIAB atuam, é uma grande conquista e traz alegria para nossa organização ao percebermos esses passos de avanço. Também considero valioso pensar na expansão desses processos, compartilhando com outras organizações para alcançarmos melhores resultados”, afirma.
Compromisso com as questões de gênero
Desde a sua criação, a Coiab tem incorporado ativamente a perspectiva de gênero em suas ações e debates institucionais. A organização implementou diversas estratégias para assegurar que pessoas indígenas da Amazônia brasileira, independentemente de seu gênero, tenham espaço para se expressar e atuar em posições estratégicas, contribuindo para a formulação e influência de políticas que promovam a igualdade e a inclusão de gênero.
Para Wauana Manchineri, o projeto potencializou a adoção de práticas voltadas ao equilíbrio das disparidades históricas que afetam diretamente a questão de gênero entre os povos indígenas. “Houve um fortalecimento da política de gênero da Coiab. Em especial, o direcionamento que a coordenação repassa para os seus setores. Também houve o reconhecimento da importância da agenda de gênero em todas as formações realizadas pelo CAFI e pelo constante incentivo da participação das mulheres dentro desses espaços, tanto em reuniões como em eventos. Existe uma cota colocada pela Coiab que deve ser preenchida por mulheres indígenas quando vão participar de agendas”, afirma.
Imagem: Ingryd Hayara