Em Manaus, indígenas de 23 povos realizam manifestação em apoio ao Levante pela Terra

A mobilização se concentrou em frente a sede da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas

Publicada em: 18/06/2021 às 01:00

A manhã desta sexta-feira (18) foi marcada por uma mobilização dos povos indígenas que residem em Manaus, em apoio ao movimento nacional Levante Pela Terra, que acontece desde o dia 8 de junho em Brasília. Mais de 50 indígenas de 23 povos compareceram ao ato que repudia o Projeto de Lei (PL) 490/2007, que tramita na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara. Os indígenas pedem a retirada definitiva do PL da pauta de votação. A concentração ocorreu em frente à sede da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam).

Zenilton Mura, coordenador da Coordenação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Coipam) afirmou que até a próxima terça-feira (22), data em que o PL deverá voltar à pauta na Câmara, as lideranças em Manaus realizarão atos contrários à aprovação do PL e a todos os projetos anti-indígenas.

O projeto de Lei 490 abre TIs para exploração predatória e, na prática, acaba com as demarcações dessas terras, hoje já paralisadas pelo Governo Federal. Desde o dia 8 de junho, o PL vem sendo incluído na pauta da sessão da CCJC da Câmara. Na última terça-feira (15), novamente, foi inserido e desta vez aberto para votação, porém foi interrompido por conta da abertura da ordem do dia dos deputados no plenário, conforme prevê o regimento. O PL retomou a pauta nesta quarta-feira (16), e foi embargado após pedido de vista da deputada indígena Joenia Wapichana e outros deputados contrários ao projeto.

De acordo com a liderança Net Kokama, da Associação Indígena Multiétnica, o ato em frente a Aleam é uma forma de chamar a atenção dos parlamentares estaduais e federais do Amazonas para a causa indígena. “Nós precisamos que nossos políticos defendam os nossos direitos. Por isso, estamos aqui hoje, na tentativa de pedir apoio contra a aprovação do PL 490. Este é um apelo que estamos fazendo a eles”.

Moy Saterá, do povo Sateré-Mawé do município de Barreirinha, no baixo Amazonas, afirmou que a mobilização em Manaus é um apoio dos povos indígenas que não puderam estar presentes em Brasília.

“Nossos parentes estão em Brasília, estão pegando gás na cara, estão sendo ameaçados com balas, mas eles não vão desistir e nós que moramos aqui no Amazonas também não. Não somos só nós indígenas que vamos sofrer com a aprovação dessa lei. A sociedade tem que nos apoiar contra o PL 490, que quer nos matar e matar vocês também”, declarou.

Em Brasília, mais de 800 indígenas de 43 povos seguem no acampamento Levante Pela Terra. Na tarde desta sexta-feira, após duas tentativas anteriores, os indígenas do povo Munduruku no Médio e Alto Tapajós foram recebidos pelo presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, e apresentaram uma série de denúncias sobre a onda de violência que os povos vêm enfrentando, principalmente devido a prática do garimpo ilegal na região.

“Estou indignada com o que está acontecendo. As portas da Funai todo esse tempo fechadas, enquanto nosso povo está precisando de segurança. Eu acho que o senhor não sabe o quanto estamos correndo risco, por defender nossa terra, a natureza. Para vocês isso pode ser chato, mas para nós, é vida. E eu pergunto, será se o senhor merece estar nessa cadeira? Será que o senhor merece eu estar falando desse jeito? O senhor senta com garimpeiros que ameaçam nossas lideranças, o senhor senta com ruralistas que estão negociando nossos territórios. O senhor é a favor da PL 490 que vai tirar nossos sonhos. Será se o senhor sabe o que é vida” indagou Alessandra ao presidente em vídeo compartilhado em suas redes sociais.