Conflitos territoriais e fake news interferem na vacinação em terras indígenas resultando em novos casos de covid-19

Mesmo com o avanço da vacinação entre os povos indígenas, novos casos da doença e óbitos estão sendo registrados em áreas de fronteira e territórios de conflitos

Publicada em: 28/07/2021 às 00:00

Um levantamento realizado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), a partir de dados registrados pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), revelou que casos de Covid-19 continuam afetando os povos indígenas, principalmente, os que vivem nas áreas de fronteira, territórios de conflito e distritos com baixa adesão vacinal. De acordo com os dados coletados pela organização, durante o mês de junho foram registrados 727 casos e 12 óbitos. Já em julho foram identificados 476 casos e 11 óbitos.

Os novos casos de Covid-19 foram identificados nos DSEIs Yanomami (RR): 122; Xingu (MS): 56; Cuiabá (MT): 45; Leste (RR): 43; Porto-Velho (RO): 34; Amapá e Norte do Pará (PA): 30 e Kaiapó (PA): 19. Os óbitos foram registrados nos DSEIs Leste (RR) três; Parintins (AM) dois; Xavante (MT) dois; Cuiabá (MT); Maranhão (MA) um; Manaus (AM): um e Alto Solimões (AM): um óbito.

De acordo com Luiz Penha Tukano, assessor técnico da Coiab e membro do Comitê Covid-19, a baixa adesão vacinal tem sido um grande desafio em alguns distritos sanitários. Assim como nas cidades brasileiras, nas aldeias indígenas a realidade não tem sido diferente e há um grande desafio quanto a aceitação da vacina e o retorno para a segunda dose. Somado a isso, o negacionismo relatado em algumas aldeias, influenciadas por discursos de grupos religiosos ou que distribuem fake news relacionadas contra a vacina, tem influenciado o pensamento sobre a imunização em populações indígenas.

“Desde o início das campanhas de vacina da Covid-19 a expectativa de casos de óbitos da Covid-19 em indígenas seria zero. No entanto, finalizado o primeiro semestre de 2021, casos de Covid-19 têm sido notificados, incluindo óbitos”, comentou Luiz Tukano.

Luiz destaca que os casos estão sendo registrados principalmente em áreas de conflitos, como no Mato Grosso e Roraima, neste último, por exemplo, onde os indígenas yanomami sofreram invasões e frequentes ataques por parte de garimpeiros às comunidades. O assessor técnico também ressalta preocupação quanto às áreas de fronteiras.

“O distrito de Alto Solimões que abrange a fronteira do país também tem registrado novos casos. Por isso é importante manter um alerta diante da situação da tríplice fronteira e acompanhar o boletim epidemiológico da região. Precisamos incentivar e apoiar a vacina. Esse é nosso melhor caminho. Os números têm caído drasticamente e isso já é resultado da vacinação, portanto se avançarmos ainda mais na segunda dose é possível pensar em um cenário sem óbitos. A Covid-19 não acabou e tão pouco vai sumir rapidamente, por isso é necessário continuar com as medidas preventivas e principalmente se imunizando”, finalizou Luiz.

O monitoramento realizado pelo Comitê Covid-19 da Coiab tem como base a análise de dados de boletins do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Sasisus), Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), informações de lideranças, profissionais de saúde indígenas e organizações da Rede Coiab.