Coiab reúne lideranças indígenas para realizar retomada do Centro Amazônico de Formação Indígena (CAFI)

Ex-alunos do CAFI e lideranças da Rede Coiab debatem durante quatro dias a importância do retorno das formações para jovens indígenas através do centro de formação

Publicada em: 11/07/2022 às 14:44

A coordenação executiva da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) reuniu em Brasília-DF, lideranças dos 9 estados da Amazônia brasileira, durante o período de 19 a 22 de junho, aconteceu o “Curso de aprofundamento de assuntos estratégicos para a proteção dos direitos indígena da Amazônia”. O evento teve por finalidade, discutir as diretrizes que nortearão as áreas de formação do Centro Amazônico de Formação Indígena – CAFI. O evento foi promovido pela Coiab em parceria com a The Nature Conservancy Brasil – TNC.
Estiveram presentes no encontro os ex-alunos do CAFI, Franciara Baré, atual coordenadora executiva da Coiab e Enock Tauperang, atual vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima (Cir). Reunidos também na formação os ex-alunos do CAFI: José Arara, Laura Karitiana, Macksoara Narciso, Paulo Karajá, Romeu Tsirobo Ivanilda Munduruku, Iranildes Mandica, Crisanto Xavante presidente da Federação dos Povos Indígenas do Mato Grosso (Fepoimt), Marcos Karajá coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins (Arpit), João Paulo Waiãpi coordenador da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (Apoianp), Toya Manchineri coordenador da MATPHA e assessor político da Coiab e Coordenadora de Área e Território e Recursos Naturais da Coica, Maria Betânia do Conselho Indígena de Roraima (Cir), Luiz Wai Wai da Federação dos Povos indígenas do Pará (FEPIPA), Antonio Tenharim da Organização dos Povos Indígenas (OPIAM), Jade Kokama da Retomada do Movimento Indígena do Amazonas e Lourenço Krikati da Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA).

Durante o curso foi realizada uma homenagem póstuma ao professor Lúcio Flores do povo Terena, referência como liderança e ativo nas ações de formação das turmas do CAFI. Como forma de homenagem, foi entregue pela liderança Enock Taurepang uma placa para a esposa Matilde Terena e seu filho.

O segundo de programação do “Curso de aprofundamento de assuntos estratégicos para proteção dos direitos indígena da Amazônia” iniciou com a montagem de grupos para elaboração de painel visual sobre os povos indígenas da Amazônia. O objetivo dos grupos é discutir sobre os impactos nas áreas indígenas e na organização social dos povos indígenas de empreendimentos como a da agropecuária, de UHE e PCH e do garimpo ilegal, para juntos discutir estratégias de enfrentamento.

Durante as apresentações dos grupos, foram ressaltados que as experiências das lideranças aqui reunidas devem influenciar na criação de políticas públicas. Em sua fala, o coordenador da FEPOIMT, Crisanto Xavante, ressaltou que[highlight= rgb(255, 255, 255)] “bioma não fala, tamo falando por ele”. Dessa forma, as falas das lideranças e demais participantes do curso, apontaram que os impactos dos empreendimentos citados afetam o aspecto social das comunidades e a biodiversidade, pelo fato de alterar a rotina alimentar e espiritual das populações.

Portanto a formação das novas lideranças também parte da necessidade de fortalecer a comunicação e buscar, através do intercâmbio de saberes, melhores alternativas para lidar com as situações de conflito e aprender a dialogar e articular melhores formas de gestão dos territórios.

Para ampliar ainda mais o debate, a formação tratou sobre o Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), apresentado pelo assessor político da COIAB e coordenador da MATPHA, Toya Manchineri. Cada liderança apresentou as demandas dos seus territórios, relatou as dificuldades enfrentadas pelas lideranças e de como a formação do CAFI foi importante para se aprender a discutir sobre a legislação indígena, direitos ambientais, a saúde indígena e de como os empreendimentos como a agropecuária, a mineração em Terras indígenas e a extração ilegal de madeira impactam negativamente as comunidades indígenas.

Durante as discussões, os membros presentes apontaram as melhorias que obtiveram em suas comunidades e as novas situações de conflitos. Abordaram sobre o Plano de gestão territorial e ambiental em terras indígenas (PPGT, PPTAL, PDPI, PNGATI, REDD), o Plano de vida (2009) e o Fundo Amazônia (financiamento de vários PGTA’s).

“Um dos grandes desafios do movimento indígena era o fortalecimento das organizações na gestão administrativa e gestão de projetos, isso há 10 ou 15 anos atrás. Por isso que um dos cursos que o CAFI que foi decidido que falariam como uma organização funciona e as regras não indígenas para o bom funcionamento das organizações. Naquela época, muitas organizações indígenas estavam se acabando por conta da burocracia que não fazia parte do cotidiano delas, então o CAFI promoveu várias turmas de Gestão de Organização Indígena” relata Helcio da The Nature Conservancy Brasil – TNC.

Como retorno sobre as vivências após a experiência de formação no CAFI, os ex-alunos relataram como os cursos impactaram em suas vidas e de suas organizações, como o CAFI os preparou para a trajetória como lideranças e de como esperam que a formação continue para a juventude e para os demais lideranças que tenham interesse em continuar participando. Ressaltando a importância do retorno do CAFI com a participação de lideranças atuando na formação de novas turmas, entendendo as lideranças indígenas como bibliotecas vias do movimento, além de sua visão do que se espera de retorno dos jovens para o futuro. Alguns temas foram apontados como cruciais para desenvolver nas formações do CAFI, como por exemplo: Legislação sobre o direito indígena, monitoramento de políticas públicas, programa de monitoramento ambiental, formação em saúde indígena, identidade cultural e entre outros aspectos que visam fortalecer e atender as demandas das comunidades.

“Para a retomada da Coiab foi importante que os nossos parceiros e a Rede Coiab atendesse nosso convite de conhecer nossas capacidades, enquanto indígenas, enquanto organizações. Estamos mostrando as nossas capacidades, muitos de vocês que já passaram pela executiva da Coiab, Toya Manchineri, Lourenço Krikati e Crisanto Xavante, e hoje tem a oportunidade de estar conosco, a Coiab é intergeracional, que continuam contribuindo mesmo não estando na executiva, equilibrando os conhecimentos e experiências, podemos ver nossos conhecimentos sendo base para o fortalecimento institucional das organizações indígenas. Muitos nos colocavam como incapazes de gestão administrativa financeira e mostramos através da nossa responsabilidade e compromisso que fortalecemos a Coiab e suas organizações. A partir dessas oportunidades de formação que vamos fortalecer o movimento, por exemplo, precisamos falar sobre a política partidária entre nós, mas sem deixar ela desrespeitar nossa forma de organização e políticas internas, temos um desafio muito grande que é ter mais Joenias Wapichanas no congresso, ou seja, o parlamento precisa ter uma bancada indígena, precisamos ter cada vez mais cocares no congresso nacional, nas assembleias legislativas, porque não na presidência. Então, todos esses espaços precisamos ter vozes e nos fazer ocupar, vemos a importancia de ter vez e voz principalemnte por estarmos vendo que esse desgoverno tenta legalizar o ilegal” afirma, Nara Baré, coordenadora executiva da Coiab.

Durante o encerramento do “Curso de aprofundamento de assuntos estratégicos para a proteção dos direitos indígena da Amazônia”, foram dialogadas as propostas de curso, dinâmica de formação e o papel do movimento e organizações indígenas para potencializar a formação dos jovens e futuros cafianos.

“Estamos concluindo essa fase de retomada de um dos sonhos do movimento indígena que é o Centro Amazônico de Formação Indígena (CAFI), que surge através da ideia de termos nossas universidades indígenas. Dessa forma, vamos construir um movimento mais sólido, apontando as direções que as formações precisam ter para garantirmos nossos direitos”, finaliza Toya Manchineri.