No dia 19 de abril de 2025, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) fundada em 1989, completa 36 anos de existência, fruto da união e da força de lideranças indígenas que sentiram a necessidade de se articular coletivamente para defender seus direitos e territórios. Ao longo de sua trajetória, a Coiab contribuiu para o fortalecimento do movimento indígena nacional, e hoje destaca-se não só como defensora dos povos indígenas, mas também por sua luta pela justiça climática.
A criação da Coiab foi um marco na história do movimento indígena brasileiro, especialmente na Amazônia, onde a diversidade de povos e culturas é imensa. Ela surgiu logo após a Constituição de 1988, que reconheceu oficialmente os direitos dos povos indígenas, oferecendo um novo cenário de possibilidades, mas que também exigia organização para garantir que esses direitos fossem cumpridos.
Ao longo de sua história, a Coiab se tornou a maior organização indígena regional do Brasil, representando mais de 180 povos dos nove estados da Amazônia Brasileira. Com o passar dos anos, ela se fortaleceu como uma voz ativa e respeitada na luta pela demarcação de terras indígenas, pela proteção da floresta, e pela promoção de uma educação e saúde diferenciadas, voltadas às realidades e saberes dos povos indígenas. Também enfrentou grandes desafios, como o avanço do desmatamento, das invasões ilegais e das ameaças aos direitos conquistados.
A Coiab tem sido um espaço de formação política e liderança, especialmente para jovens e mulheres indígenas. Sua atuação vai além das fronteiras brasileiras, levando as denúncias e demandas dos povos amazônicos a fóruns internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização dos Estados Americanos (OEA). Em todos esses anos, sua luta tem sido guiada por um princípio essencial: o respeito à autonomia dos povos indígenas e à sua forma própria de viver, pensar e se organizar.
Hoje, após décadas de atuação, a Coiab segue firme como um símbolo de resistência, união e esperança. Sua história é escrita por muitas mãos e vozes como os anciãos, jovens, mulheres e crianças. É uma história viva, que continua sendo construída a cada dia, em cada aldeia, em cada reunião, em cada ato de defesa dos territórios e da vida. A Coiab foi uma peça fundamental para que o movimento indígena brasileiro se solidificasse, sendo responsável em grande parte pela criação da Conselho de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil (Capoib) e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que neste ano completa 20 anos de fundação. A Coiab também ajudou no fortalecimento de outras organizações de base da Apib, como Aty Guasu, Arpinsul e outras.

Manifestação organizada pela Capoib. Foto: Arquivo Coiab
Para além de sua participação no fortalecimento das instituições citadas anteriormente, a Coiab também fortalece constantemente as suas organizações pertencentes à base da Coiab: Articulação dos Povos Indígenas do Amazonas (APIAM), Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP), Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins (ARPIT), Conselho Indígena de Roraima (CIR), Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), Federação dos Povos Indígenas do Pará (FEPIPA), Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Mato Grosso (FEPOIMT), Movimento Indígena do Acre (MOV ACRE), Organização dos Povos Indígenas de Rondônia e Noroeste do Mato Grosso (OPIROMA). Trabalhando constantemente para elevação de nossas parceiras como Fundo Indígena da Amazônia Brasileira – Podáali e União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB). Seguir juntos por mais anos juntos as organizações de bases da Coiab é essencial para que nos próximos anos a Coiab atinja ainda mais a conquista dos direitos dos povos indígenas.
“A Coiab chega aos seus 36 anos com o objetivo de conquistar muito mais na garantia de direitos indígenas, ainda mais na questão da demarcação de territórios indígenas e protagonismo das vozes indígenas, assim como na missão de sua criação. A Coiab representa o espírito coletivo de um povo que nunca deixou de lutar por seus direitos, sua terra e seu futuro”, afirma a coordenadora-tesoureira da Coiab, Dineva Kayabi.
Justiça climática
Uma missão que a Coiab vem fortalecendo a cada ano é a luta por justiça climática para os povos indígenas. A realização da COP30 na Amazônia este ano contribuiu para que a Coiab abraçasse o papel de anfitriã da conferência que reunirá os países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) para debater e decidir sobre metas, ações e estratégias de enfrentamento à crise climática.
Para isso, a Coiab desenvolveu uma série de estratégias, como a campanha ‘A Resposta Somos Nós’, um chamado global por justiça climática, com protagonismo dos povos indígenas ao redor do mundo. Com lançamento oficial durante o encontro do G20 no Rio de Janeiro, em 2024, a campanha já agregou outros movimentos da sociedade civil, inclusive com a realização de uma marcha na última edição do Acampamento Terra Livre (ATL) em Brasília, no último dia 10 de abril.
Outra estratégia é o G9 da Amazônia Indígena, que reúne representantes das organizações indígenas dos nove países da Bacia Amazônica, tendo a Coiab como representante brasileira. A articulação, aos moldes do G20, incorpora a autoridade e governança das lideranças indígenas para debater e construir soluções para temáticas como clima, biodiversidade e diversificação. Já a Troika dos Povos Indígenas é uma aliança, articulada pela Coiab, que reúne povos indígenas do Brasil, Austrália e Pacífico para fortalecer a participação global indígena nas negociações climáticas.

Marcha “A resposta somos nós” no Acampamento Terra Livre 2025. Foto: Ronaldo Tapirapé. Brasília-DF, abril de 2025
Membros do G9 e da Troika Indígena participaram do ATL 2025, a convite da Coiab, onde lançaram uma declaração conjunta histórica, onde exigem voz e poder iguais aos dos chefes de Estado na COP30, uma vez que a Amazônia e o Pacífico são os principais biomas responsáveis por deter os impactos das mudanças climáticas. Outra conquista da Coiab na trajetória rumo à COP30 é a inclusão, junto com o G9, na Comissão Internacional Indígena, estrutura oficial criada especialmente para a conferência para amplificar a visibilidade e a influência dos povos indígenas nas negociações climáticas.
“Todas essas conquistas são resultado direto das incidências e articulações que a Coiab vem construindo, ano após ano. A preocupação dos povos indígenas com as mudanças climáticas não é de hoje; pelo contrário, somos nós os primeiros a observar e sentir os impactos da emergência climática. Nossa autoridade deve ser reconhecida, apenas assim serão construídas soluções eficazes para deter essa crise que nos assola. E a solução passa, necessariamente, pelo reconhecimento da demarcação dos territórios indígenas como política climática”, pontua o coordenador-geral da Coiab, Toya Manchineri.