Carta de Repúdio do Vale do Javari

Contra o projeto político do atual governo brasileiro que visa exterminar os povos indígenas do país!

Publicada em: 27/05/2021 às 01:00

É indignação que a UNIÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO VALE DO JAVARI por meio de sua base política, composta pelas associações dos povos indígenas da terra indígena Vale do Javari, manifesta contra o projeto político do Governo Brasileiro perpetrado contra as populações indígenas do país.

As expropriações, o garimpo ilegal, os atentados contra as liberdades, e as perseguições contra nossas lideranças, não cessaram e o extermínio aos povos indígenas é compreendido por nós, como um projeto de poder que visa alcançar o nosso fim. O projeto brasileiro da morte dos povos indígenas, tal qual ocorreu nos países do “primeiro mundo”.

Nunca foi tão necessário formar uma coalisão entre todos os povos indígenas brasileiros com fundamento principiológico na maior da Carta Política de nossa história: a Constituição Federal de 1988, que traz entre as garantias de primeira geração, a vida, a liberdade e os direitos fundamentais indígenas como cláusula petrificada no ordenamento jurídico de nosso país.

Os ataques de grupos criminosos e cruéis perpetrados em 26/05/2021 que queimou a casa das líderes indígenas do povo-irmão Munduruku, não só o local sagrado daquelas líderes, queimou junto também todas as Malocas deste país indígena. Assim como, as duas crianças Yanomamy mortas há duas semanas atrás em outro ataque vil e covarde contra o povo Yanomami, também feriu o coração de cada mãe e pai indígena desse país.

O apoio incondicional do governo brasileiro aos grupos que atentam contra as vidas indígenas é sim um projeto político que custa vidas indígenas. Tal afirmação decorre da análise dos fatos e atos patrocinados pelos mandatários do país, a exemplo do caso envolvendo o ministro do meio ambiente que está sendo acusados de conceder benesses à grupos criminosos; as afirmações do presidente que índio não é gente ou que índio não precisa de direitos.

Tais posicionamentos das autoridades constituídas geram preferências entre um tipo de brasileiro em detrimento de outros e reforça atividades ilegais exploratórias como: garimpeiros ilegais, madeireiros patrocinados por grupos criminosos, fazendeiros que expropriam as populações indígenas, missionários estrangeiros e nacionais que não respeitam a cultura indígena e outros segmentos que sempre atuam contra os direitos e a causa indígena e sempre de forma ilegal. Sentimos na pele a fúria desses grupos diariamente e ante esse cenário passamos a nos contrapor.
Desde a invasão em 1500, que nossos corpos estão sendo moldados pelas armas de fogo de nossos inimigos, e eles nunca cansam de assistir nosso sangue banhar esse chão de nossos antepassados.

Antigamente os povos da floresta saíam para realizar suas atividades cotidianas em seu meio social e temiam encontrar onça, cobra ou outros seres da floresta, nos dias atuais temos medo de encontrar os grupos de invasores com suas poderosas armas de fogo e toda corja de grupos criminosos que adentram nossas terras com aval do poder público. Essas sim, são as feras mais perigosas que os povos indígenas já viram.
Todas essas formas de pressões ocultas que temos sofrido, invasões e de extermínio, NÃO NOS CALARÃO.

Ao contrário do que impõe o atual dono do Poder, que ataca com sua fúria de selvagem nossas lideranças e nossas casas por meio de seus súditos, mostraremos em contraposição, civilidade e defesa de nossos direitos extraídos à luz da Constituição de 1988 e sem causar ferimentos físicos.

Somos brasileiros, e atuaremos contra a tirania, o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os erros cometidos contra nossa gente.

FICA A NOSSA INDIGNAÇÃO.

Atalaia do Norte – AM, 27 de maio de 2021.

Atenciosamente,


Paulo Dollis Barbosa da Silva
Coordenador Geral da UNIVAJA