Carta da Organização Indígenas Quatro Penas de Apuí ao excelentíssimo: Senhor Jair Messias Bolsonaro Presidente da República Federativa do Brasil – Brasília-DF

Publicada em: 07/01/2019 às 14:12

Apuí,3 de janeiro de 2019

Nós lideranças indígenas juntamente com nosso povo de Apui amazonas, desde as proximidades do RIO ARIPUANÃ até a margens do RIO SUCUNDURI somos vítimas de política integracionista de governos e Estado Nacional Brasileiro, por isso manifestamos em público que não aceitamos mais política de integração, política de tutela e não queremos ser dizimados por meios de novas ações de governo e do Estado Nacional Brasileiro. Onde hoje nosso povo tem direitos garantidos, mas não fazendo o mesmo valer pelos poderes federais existente em nosso país.

Excelentíssimo senhor presidente, por tudo aquilo que já foi feito contra os nossos povos do passado os legisladores de nosso país devem meramente satisfação impagável aos nossos poucos povos que ainda existem. As terras indígenas têm um papel muito importante na biodiversidade e a manutenção da riqueza naturais existentes, tais como, purificação do ar, purificação das aguas contaminadas despejadas em nosso subsolo, e de todo equilíbrio ambiental e o da própria raça humana existente no mundo.

Os povos indígenas possuem 13% de terras demarcadas em todo território nacional. Sendo que grande parte dela está centralizada (90%) na Amazônia Legal. Esse percentual é o que restou como direito para a minoria que ainda existe, sofremos um golpe dos colonizadores e o que tínhamos de 100% garantido nos foi retirado. Hoje não somos nós que temos grande parte do território Brasileiro sobre o domínio próprio, mas sim os grandes latifundiários, ruralistas, agronegócios, etc., que possuem cerca de 60% ou mais do território nacional Brasileiro. Foram os povos indígenas que lutaram para proteger as fronteiras da Amazônia brasileira combatendo aos invasores que incansavelmente queriam tomar o que ainda restava, uma luta árdua que até ao dia atuais sofremos as consequências do passado negro.

O senhor afirma de forma diferente e preconceituosa, que somos manipulados pelas ONGs ao contrário, elas não são nossos aliados caminhemos em estradas distintas, as políticas públicas, a ação de governos e do Estado Brasileiro é que são ineficientes, insuficientes e fora da realidade dos povos indígenas de nossas comunidades.

Quem não é indígena não pode sugerir ou ditar regras de como devemos nos comportar ou agir em nosso território e em nosso país. Temos capacidade e autonomia para falar por nós mesmos. Nós temos plena capacidade civil para pensar, discutir os rumos dos povos indígenas segundo nossos direitos, que são garantidos nos artigos 231 e 232 da Constituição Federal, na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e na declaração da ONU sobre os povos indígenas.

Nós temos total condições de elaborar projetos e iniciativas para aplicar dentro do estado do amazonas e principalmente distribuir entre nossas terras mudando os conceitos de vida de nosso povo sem afetar os costumes e tradições, prezado senhor Presidente, cumpra com suas falas e discursos de campanha fazendo valer a democracia, pois somos brasileiros que merecemos respeito sobre nossos direitos. Não aceitamos a ação ditatorial, pois contradiz com o discurso de seu próprio Ministro senhor Onyx Lorenzoni que defende o diálogo. Afirmamos que estamos organizados com lideranças e povos capazes de dialogar com o presidente, Estado brasileiro e governo. As mudanças feitas na restruturação e na reorganização administrativa do governo federal através de MP n° 870 do dia 1 de janeiro de 2019 são uma completa desordem e um ataque contra a política indigenista Brasileiro. Além de prejudicial, pretende inviabilizar os direitos indígenas que são constitucionais. O mesmo sobre novo decreto, que tira a competência da Funai de licenciamento que impactam nossos territórios. Essa prática já aconteceu no passado na história Brasileira como uma tentativa agressiva de nos dizimar. Foi um período muito difícil e ineficiente do Estado. Não aceitamos e não concordamos com suas medidas de reforma administrativa para gestão da política indigenista.

Não somos culpados de ter muitas mudanças em nossas vidas e em nossas culturas. Isso é fruto de um processo de colonização violento, que matou muitos povos e extinguiu línguas nativas. Queremos continuar sendo indígenas, com direito a nossa identidade étnica, assim como somos brasileiros. Assim que aprendemos a defender nossa nacionalidade.

Nosso modo de vida é diferente. Não somos contra quem opta por um modelo econômico ocidental, capitalista. Mas temos nossa própria forma de viver e de organizar as nossas terras, temos forma de sustentabilidade e organização social. Por isso, não aceitamos desenvolvimento e nem um modelo econômico feito de qualquer jeito e excludente, que venha causar impacta em nossos territórios. Nossa luta por sustentabilidade é para nos manter e garantir o futuro da nossa geração.

Nossas terras, já comprovado técnica e cientificamente, são garantias de proteção ambiental, sendo preservadas e manejadas pelos povos indígenas, promovendo constantes benefícios no qual a região sul e sudeste são beneficiada graças a nossa preservação.

Nós não estamos isolados completamente e nem vivemos na era das cavernas, pois a catequização do homem branco chegou até a nós, ensinando principalmente as coisas certas e erradas para nossos povos, senhor presidente essa era global que vocês chamam de civilização da tecnologia, nosso povo aprendeu, para expressar as dores, e clamar pelo sangue derramado de um povo que um dia teve os gritos silenciados, pedimos ao senhor ,que não venha construir em cima da minoria leis que insultam conflitos entre índios e não índios ,pois nossa terra é sagrada e o mesmo sangue que o senhor tem, em suas veias na cor vermelha pode ter certeza que a dos povos indígenas do Brasil e do mundo também é da mesma cor.

Portanto, senhor presidente da República Jair Messias Bolsonaro, considerando a política de diálogo do seu governo na democracia, nós lideranças indígenas, representantes legítimas, estamos prontos para o diálogo, e preparados para defender a coletividade.

Cartas dos povos indígenas de Apui/Guarani Mbya Carijó/Mundurucus

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