Ajuri: Juventude Indígena no Protagonismo Climático

Por: Antônio Marinho Piratapuia

Publicada em: 10/04/2025 às 21:29

Na manhã desta quinta-feira (10), a Tenda da Coiab promoveu a roda de conversa “Ajuri: Juventude Indígena no Protagonismo Climático”. O encontro aconteceu durante o Acampamento Terra Livre 2025, com a participação de jovens dos nove estados da Amazônia brasileira.

Foram convidados para o painel os(as) jovens indígenas: Jessica Sateré-Mawé (AM), Marcela Jeanjacque Galibi Kalin’na (AP), Isaká Huni Kuin (AC), Jeferson Tupari Makurap (RO), Aleixo Wapichana (RR), Mitã Xipaya (PA), Inayuri Guajajara (MA), Juxuora (MT) e Gabriel Krahô (TO), com moderação de Raquel Wapichana, coordenadora do Departamento de Juventude do Conselho Indígena de Roraima.

Desafios na organização da juventude indígena

Os participantes destacaram, em seus discursos, a participação da juventude indígena dentro e fora dos territórios, os desafios enfrentados na construção dos sonhos coletivos e a presença nos futuros eventos que acontecerão em 2025, na Amazônia brasileira.

Isaká Huni Kuin, membro da rede de comunicadores indígenas da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), pontuou a importância da participação da juventude no movimento climático, mas ressaltou que, em seu estado, o Acre, ainda não há uma organização indígena da juventude em nível estadual.

Isaka Huni Kuin, jovem indígena do Estado do Acre | Foto: Ronaldo Tapirapé

 

“Nós temos essa dificuldade de nos organizar e fazer um trabalho conjunto com a juventude. Mas, mesmo assim, sem a organização estadual representando, a gente tem alguns coletivos que estão atuando na linha de frente do movimento indígena do estado do Acre. E, assim, também vamos trabalhando”, afirmou o jovem comunicador.

 

 

Caminho para a COP30: organização e expectativas

Com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) se aproximando, Mitã Xipaya disse que a juventude indígena do Pará está buscando construir um movimento forte e organizado, mas enfrenta desafios como a falta de financiamento e a necessidade de integrar diferentes culturas e pensamentos.

Mitã Xipaya, jovem indígena do Estado do Pará | Foto: Ronaldo Tapirapé

 

 

“Foi proposto, pelo coordenador Alcebias, Caravanas Territoriais para preparar o encontro regional da Juventude da Amazônia, com o objetivo de fortalecer os coletivos estaduais e levar as demandas da base para o encontro.”

 

 

Mitã reforçou que a COP30 é uma oportunidade para a juventude indígena do Pará levantar sua voz e lutar por seus direitos, e destacou que o projeto de tradução das línguas indígenas da Coiab será uma ferramenta importante para garantir a participação e a compreensão de todos os povos indígenas.

A ativista indígena Marcela Jeanjacqu,  do povo indígena Galibi Kalin’na, também defendeu a importância da caravana da juventude, ressaltando que “a COP30 é para a gente, jovens, protagonistas”.

Acesso à educação e políticas públicas inclusivas

Outro tema levantado pelos jovens indígenas foi a participação na construção de políticas públicas que garantam o acesso às instituições federais de ensino superior. Tais iniciativas são conhecidas como Processo Seletivo Diferenciado.

Lia Karipuna, coordenadora da Organização Indígena de Juventude de Oiapoque (OIJO), compartilhou que há uma luta por processos seletivos diferenciados na Unifap (Universidade Federal do Amapá), mas que a instituição só realiza no Campus Binacional, localizado no município de Oiapoque.

Ela lamentou que o campus “é um campus sucateado, que não acessa recursos, onde nós temos poucos colegiados”. Disse também que, no último processo, não foram abertas turmas para todos os cursos, sendo ofertadas pouquíssimas vagas.

Impactos da Emergência Climática na educação

A representante Jessica Sateré-Mawé pontuou, em sua fala, a especificidade do estado do Amazonas. Ela relatou que o estado enfrenta uma situação climática muito grave, principalmente durante os eventos extremos que ocorrem nas comunidades, o que impacta, por exemplo, a aplicação das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Jessica Sateré-Mawé, jovem indígena do Estado do Amazonas | Foto: Ronaldo Tapirapé

 

“Hoje em dia, a juventude indígena está num contexto de cidade, está num contexto de trânsito, e a juventude de território […] A juventude indígena do Amazonas está pedindo um Enem específico para o estado, pois a crise climática impede muitos jovens de chegar aos polos de prova”, afirmou.

 

 

 

Jessica também argumentou que “para chegar até uma cidade, a um polo, é preciso gasolina, e o rio está seco. Para chegar até uma comunidade onde há polo, também é preciso gasolina, e não tem como se transportar para lá”. Ela propôs a criação de um fundo climático para a juventude indígena, para que “possa se prevenir dessas situações”.

Demandas e Compromissos para o Futuro da Amazônia

A juventude indígena da Amazônia brasileira também apontou demandas para o futuro do movimento e sua participação política. Além de solicitar a organização e o financiamento de caravanas pelos Estados da Amazônia em preparação para a primeira assembleia da juventude indígena, eles pedem à Coian que crie um departamento de juventude e os inclua em mesas de discussão e eventos da COP 30. O objetivo é dialogar com financiadores e “destruidores” do território, transmitindo a mensagem do movimento indígena. Por fim, reforçaram a importância de manter a essência da luta, da comunidade e dos sonhos coletivos para garantir a união e o sucesso do movimento indígena.

Foto capa: Ronaldo Tapirapé – Acampamento Terra Livre 2025 – Brasília/DF.