A boiada avança sobre os dois últimos indígenas Piripkura

Imagens inéditas revelam como fazendas de gado, com pistas de pouso e estradas, estão tomando a Terra Indígena Piripkura e destruindo a floresta que é a casa de Baita e Tamanduá

Publicada em: 22/11/2021 às 00:00

“Desmatamento, invasões de fazendas de gado e degradação florestal dentro da Terra Indígena Piripkura (MT) alcançam um patamar inédito”. Essa é a denúncia que evidencia o dossiê “Piripkura: Uma Terra Indígena devastada pela boiada”, lançado nesta segunda-feira (22/11) pela campanha #IsoladosOuDizimados, promovida pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e pelo Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi), e organizações parceiras.

No centro do documento, imagens aéreas – de sobrevoo realizado em outubro deste ano – registram como o território de Baita e Tamandua, os dois únicos Piripkura em isolamento que se têm notícia, está sendo desmatado, grilado e invadido por rebanhos bovinos. A boiada, sob conivência do Estado, está literalmente correndo solta na Terra Indígena Piripkura.

Confira aqui [/b]dossiê completo

A Terra Indígena Piripkura, localizada nos municípios de Colniza e Rondolândia, no estado de Mato Grosso, é ameaçada há décadas pelo lobby agropecuário e pela exploração madeireira. No entanto, a flexibilização da proteção do território no último biênio do governo Bolsonaro piorou um cenário que já era devastador.

O monitoramento do território, realizado pelas organizações parceiras da campanha #IsoladosOuDizimados, analisou imagens de satélite e imagens aéreas produzidas em sobrevoo que comprovam a expansão de fazendas agropecuárias e a reativação da atividade comercial de madeireiras dentro do território indígena, revelando que violações de direitos seguem a todo vapor e sem nenhuma intervenção efetiva do Estado. Grandes desmatamentos e queimadas impulsionam a expansão das fazendas.

“Aquela área que nós sobrevoamos, é uma área nova, uma expansão dessa atividade para a pecuária, já exploraram as madeiras que agregam valor comercial para fazer exportação nesse estado ou externamente. E agora para fazer plantio de capim, para colocar gado ali dentro”, explica Elias Bigio, ex- coordenador-Geral de Índios Isolados e Recém-Contato (Cgiirc- FUNAI), que esteve presente na ação.


Avanço da criminalidade

Até outubro de 2021, o sistema de monitoramento independente do Instituto Socioambiental (Sirad), registrou um desmatamento acumulado de 12.426 hectares, o que equivale a mais de sete milhões de árvores derrubadas dentro da Terra Indígena. Somente nos últimos dois anos, o desmatamento destruiu 2.361,5 hectares de florestas nativas, , computando um aumento vertiginoso de 27.000%. Neste desmatamento recente, entre julho a setembro deste ano, uma área que continha cerca de 1,3 milhões de árvores, foi totalmente degradada por incêndios criminosos, ficando pronta para a implantação ilegal de pastagens.

“Esses dados apontam que há expectativa e especulação dos invasores sobre o retrocesso da regulamentação e proteção da TI Piripkura. Com a negligência do Estado na fiscalização e proteção desta TI, os invasores acreditam que todo este crime ambiental será premiado com a posse definitiva da terra”, afirma Antonio Oviedo, coordenador do Programa de Monitoramento de Áreas Protegidas do ISA.

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