Conexão digital consciente e fortalecimento comunitário pautam roda de conversa promovida pela Coiab no ATL 2025

Por: Karina Pinheiro/Podáali

Publicada em: 09/04/2025 às 09:44

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) promoveu, na última terça-feira (8), a roda de conversa “Conexão Povos da Floresta: Como a conexão consciente à Internet pode ser uma aliada ao fortalecimento comunitário e coletivo”, realizada na Tenda da Coiab durante a programação do Acampamento Terra Livre (ATL) 2025. A atividade foi conduzida pela equipe da rede Conexão Povos da Floresta, com a participação de representantes de organizações indígenas de base e coletivos comunitários.

O encontro teve como objetivo discutir o papel da conectividade como ferramenta estratégica para o fortalecimento das comunidades, ressaltando a necessidade de um acesso à Internet que respeite os contextos locais, proteja os saberes tradicionais e contribua para a autonomia dos povos indígenas e comunidades tradicionais.

Durante a roda, o secretário-geral do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e analista de projetos socioambientais da Rede Conexão Povos da Floresta, Dione Torquato, destacou os riscos da desinformação e a importância de uma abordagem preventiva e formativa no processo de inclusão digital:

“O primeiro cuidado é sobre uma internet responsável, que não vá trazer para os nossos territórios o uso de fake news, por exemplo. E sim, fortalecer o monitoramento e a gestão territorial”, afirmou.

Durante o debate, Thais Cunha, representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), compartilhou a importância do Conexão Povos da Floresta, onde atua pelo Núcleo de Relacionamento Comunitário. Ela ressaltou o cuidado necessário ao levar a internet para os territórios:

Durante a roda de conversa, Thais destacou o papel estratégico do Conexão Povos da Floresta no apoio às comunidades que já estão conectadas e na construção de um processo de inclusão digital responsável. Segundo ela, o Conexão atua para garantir que a internet não chegue de forma desordenada aos territórios, mas com consciência e respeito aos contextos locais. Cunha ressaltou que a conectividade é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento das comunidades, especialmente no acesso a editais, formação e oportunidades diversas. No entanto, enfatizou que esse desenvolvimento deve fortalecer a autonomia dos povos, sem comprometer seus modos de vida. A meta da rede, segundo ela, é ambiciosa: alcançar cerca de 3 mil comunidades conectadas até o final de 2025. “É isso que o Conexão faz: promove essa consciência e oferece suporte para as comunidades que já estão conectadas.”

Juliana Dib Rezende, secretária-executiva do Conexão Povos da Floresta. Foto: Kaiti Topramre

A secretária-executiva da Rede Conexão Povos da Floresta, Juliana Dib Rezende, também participou da atividade e reforçou o caráter estratégico da iniciativa:

“A Rede Conexão Povos da Floresta se firmou com essa missão. Nós vamos além da conectividade. Queremos formar uma rede de comunicação entre as comunidades para fortalecer o processo de segurança digital e o acesso consciente a essas tecnologias, fortalecendo todos os processos de saberes ancestrais junto às comunidades.”

A iniciativa destacou a importância da inclusão digital orientada por valores coletivos e pela proteção das identidades culturais. Também foram compartilhadas experiências de uso da conectividade como ferramenta para mobilização, educação, denúncia de violações e visibilidade das pautas indígenas.

Para o coordenador-geral da Coiab, Toya Manchineri, a chegada da internet nas comunidades indígenas representa um avanço significativo na comunicação e no acesso a direitos. “A questão da internet é importante, facilita a comunicação — inclusive com a Coiab, com o Ministério Público, com a Funai. Antes, para resolver alguma coisa, era preciso descer o rio, chegar até o município, ir até a Funai. Hoje não: com a internet instalada na aldeia, é possível até fazer uma reunião com o Ministério Público, com a Funai, com a Secretaria de Estado de Educação, de Saúde. Então, ela só vem facilitar”, afirma.

Toya Manchineri abordou os benefícios do projeto de conectividade para as comunidades. Foto: Kaiti Topramre

Ainda segundo Manchineri, a distribuição dos kits de internet segue critérios de prioridade, conforme a demanda das comunidades indígenas. “As comunidades que quiserem ter acesso ao kit, nós temos dois modelos: um com placa solar, voltado para os locais mais distantes onde não há energia; e outro para as comunidades que já contam com energia elétrica — esse já está mais adiantado. Estamos enfrentando dificuldades para adquirir as placas solares, mas seguimos com o processo. Quem quiser solicitar, é só enviar uma solicitação escrita de próprio punho para a Secretaria Executiva da Coiab, pelo e-mail secretaria@coiab.org.br. Todas as solicitações serão colocadas em uma lista de prioridade e, conforme os kits forem chegando, vamos instalando nas unidades indígenas”, explicou.

Ao promover esse debate, a Coiab reforça seu compromisso com o uso da tecnologia como aliada da resistência, do fortalecimento das redes comunitárias e da construção de uma comunicação indígena própria, enraizada nos saberes e necessidades dos povos da Amazônia brasileira.

Foto de capa: Kaiti Topramre