23 Lideranças indígenas da Amazônia Brasileira participam da COP-26 em Glasgow

A 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas iniciou no dia 31 de outubro e segue até o dia 12 em Glasgow, na Escócia.

Publicada em: 02/11/2021 às 01:00

Por Ariene Susui (Ascom/Coiab) e Tarisson Nawa (Ascom/Fundo Podáali)

As 72 horas de viagem não resumem os dias de correria para se preparar para soar em alto e bom som “Demarcação já!” em solo britânico. Preocupação com saúde, testes de Covid-19 e a dificuldade com a comunicação em língua estrangeira foram alguns dos enfrentamentos de lideranças amazônicas na ida ao Reino Unido para participar da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), que iniciou no dia 31 de outubro e segue até o dia 12 de novembro. Após sair das suas comunidades e territórios, as lideranças passaram por São Paulo, Frankfurt, na Alemanha, e por fim chegaram na cidade onde o evento acontece: Glasgow, na Escócia. Em solo estrangeiro, as lideranças amazônicas chamam atenção com adereços ancestrais, maracás e pinturas tradicionais para garantir a força e a proteção em agendas em defesa do território, florestas, vidas, culturas e saúde do planeta.

A delegação indígena da Amazônia presente no evento é a maior em todas as edições da COP. São 23 lideranças da Amazônia Brasileira de nove estados amazônicos: Acre, Pará, Amapá, Mato Grosso, Rondônia, Roraima, Tocantins e Maranhão. 16 das 23 lideranças amazônicas presentes na COP26 são mulheres, o que reforça o seu importante papel na defesa da vida e dos territórios indígenas para garantir o bem comum à humanidade. A delegação indígena brasileira também é a maior de todas as edições da conferência, com mais de 40 lideranças.

A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) mantém firme seu compromisso de integrar a delegação da Amazônia na maior conferência do Clima e somar forças para pressionar os governos a assumir suas responsabilidades no enfrentamento às mudanças climáticas. As lideranças indígenas estão presentes em várias mesas de diálogo, discutindo financiamento climático para indígenas; soluções indígenas baseadas na natureza; redução do desmatamento; gestão ambiental e planos de vida; impactos de hidrelétricas; ameaças aos territórios indígenas; justiça climática; enfrentamento dos incêndios; garimpo e impactos territoriais, entre a participação em outros espaços de diálogos e apoios.

“Não há uma solução para a crise climática sem a participação direta dos povos originários. Por isso a emergência para que o mundo ouça os povos tradicionais e os coloquem em espaços não apenas de discussão, mas também de decisão. Sempre nos colocam como defensores da floresta, mas nós não somos os defensores, nós somos a floresta! A Amazônia somos nós. A Amazônia não é o amanhã, a Amazônia é o hoje, por isso nós estamos aqui”, afirmou Nara Baré, coordenadora geral da Coiab, que está em Glasgow para a COP26.

A liderança do Pará, Alessandra Korap, do povo Munduruku, demonstrou inconformismo com a posição do governo brasileiro. “Estou aqui para desmascarar o governo que chega dizendo que está defendendo o meio ambiente e os povos indígenas. Se fosse para defender o clima, eles demarcavam as terras indígenas; eles respeitavam o direito dos povos indígenas”, criticou Alessandra.

“Estamos para nos fazer ouvir nesse espaço de diálogo que é dos governos e principalmente dos Estados. A nossa voz ecoa, mas ainda não é suficiente, pois as decisões são tomadas sem dialogar conosco”, frisou Valéria Paye, diretora executiva do Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira. De acordo com a gestora indígena, os países firmaram compromisso de 19,2 bilhões de doláres para apoiar o reconhecimento dos direitos à terra para povos indígenas e comunidades locais. Entretanto, para Valéria, ainda é preciso que os doadores internacionais atuem diretamente com as organizações indígenas, sem intermediários, fortalecendo assim a “autonomia e autodeterminação dos próprios indígenas no processo de gestão de recursos”, finalizou a liderança.

COP 26
COP é a abreviatura de Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. A primeira edição do evento ocorreu em 1995, desde então todos os anos ocorre a Conferência, com exceção do ano de 2020, que não ocorreu por conta da pandemia. Considerada a principal cúpula do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), neste ano o encontro completa a sua 26ª edição. O espaço é a principal instância de decisão sobre a Mudança do Clima, com a presença de representantes e líderes mundiais de 196 países que se reúnem para discutir e acordar ações para o enfrentamento das Mudanças Climáticas.

Os principais objetivos desta edição são zerar a emissão de dióxido de carbono até metade do século (2050) e cortar as emissões de gases de efeito estufa de forma mais agressiva nessa década; proteger as comunidades e restaurar os ecossistemas dos países afetados pelas mudanças climáticas; obter fundos para financiar as duas primeiras metas; acelerar as ações para enfrentar a crise climática por meio da colaboração entre governos, empresas e a sociedade civil e finalizar o Livro de Regras de Paris.

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