“Só existe vida se existir território”, alerta jovem indígena no Dia das Juventudes da COP30 

Por: Antônio Marinho Piratapuya

Publicada em: 19/11/2025 às 08:59

Na terça-feira (18), Dia das Juventudes da COP30, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) marcou presença no painel “Ativismo Socioambiental no Brasil: a importância histórica do ativismo jovem na luta por direitos humanos e da natureza”, realizado no Pavilhão Brasil, na Zona Azul da conferência. A Coiab foi representada por Raquel Wapichana, coordenadora do Departamento de Juventude do Conselho Indígena de Roraima (CIR), que levou um recado firme sobre a urgência de garantir voz e espaço aos povos originários nos processos de decisão climática. 

Em sua intervenção, Raquel chamou atenção para a exclusão indígena dos espaços onde se decide o futuro do clima, dos territórios e da vida. A jovem liderança destacou a contradição entre o discurso global de direitos humanos e a realidade de violência vivida pelos povos originários no Brasil. 

“Se vamos falar de direitos humanos, estamos falando de vida. Enquanto estamos aqui dentro da COP, nossos parentes estão sendo mortos nos territórios. Acompanhamos agora a violência contra os Guarani. Isso nos obriga a refletir: qual é o nosso papel aqui? Estamos apenas marcando presença?”, questionou. 

Raquel também reforçou que os povos indígenas têm sido afastados dos espaços de decisão onde seus direitos são frequentemente violados e negociados. Para ela, discutir direitos humanos exige colocar a vida e o território no centro do debate. 

“Só existe vida se existir território. Nossa voz precisa ser ouvida de fato, não apenas como presença simbólica. Precisamos que nossas demandas retornem como ações concretas para nossos territórios”.

Ao centro Raquel Wapichana, coordenadora do departamento de juventude indígena do CIR. Crédito: Antônio Marinho Piratapuya.

 

A coordenadora enfatizou ainda o papel da juventude indígena na construção de incidência política dentro da COP30.

“Estamos aqui representando outros jovens que lutam no território e que muitas vezes são invisibilizados. Trazer nossa realidade é fundamental. Não estamos aqui para discursos bonitos, mas para mostrar o que realmente está acontecendo”, disse. 

Ao final, Raquel reforçou que os povos indígenas continuem ocupando esses espaços de decisão, ecoando suas vozes e defendendo seus territórios. E que a demarcação das terras indígenas avance de fato no Brasil. 

O painel foi promovido pela Engamundo, organização liderada por jovens que atuam na formação política e no enfrentamento de crises socioambientais. A atividade reuniu, além de Raquel Wapichana, outros jovens que atuam na organização: Beatriz Dias (UNE e Levante Popular da Juventude), Rayane Xipaya (Comitê de Campeã Jovem da COP30), Wanderson Costa (Engajamundo), Ana Luiza Luz (Quilombo Rampa – MA) e Stefan Costa (Centro Brasileiro de Justiça Climática – CBJC).

Capa: Antônio Marinho Piratapuya