Povos indígenas do Brasil, Austrália e Pacífico lançam troika de enfrentamento à crise climática

Lideranças reivindicam co-presidência indígena na COP30 no Brasil para incluir os povos indígenas nas tomadas de decisão sobre políticas climáticas

Por: Valdeniza Vasques

Publicada em: 15/11/2024 às 03:03

Para fortalecer a participação global dos povos indígenas nas negociações climáticas, lideranças indígenas do Brasil, Austrália e Ilhas do Pacífico lançaram a ‘Troika Indígena’ durante a COP29, em Baku, no Azerbaijão, nesta quarta-feira (13). A estrutura pretende assegurar o reconhecimento dos povos indígenas como verdadeiras autoridades climáticas e reivindica, entre outros pontos, uma co-presidência indígena na COP30, que será realizada no Brasil em 2025.

A iniciativa foi apresentada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), ao lado das organizações Indigenous Peoples’ Organisation-Australia e Pacific Islands Climate Action Network. O evento teve a participação da ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara, da presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, e do ministro de Assuntos Internos, Mudanças Climáticas e Meio Ambiente de Tuvalu, Maina Talia, além de indígenas de diferentes países participantes da COP.

Segundo Alana Manchineri, gerente de comunicação e articuladora internacional da Coiab, a estratégia foi pensada para reafirmar o papel dos povos indígenas como verdadeiras autoridades do clima e da biodiversidade, garantindo que a contribuição deles para o equilíbrio climático seja reconhecida e que suas pautas e interesses sejam priorizados nos espaços de decisão.

“Diferente dos governos que continuam negociando metas climáticas insuficientes e financiamentos vazios, nós temos liderado pelo exemplo, cuidando de nossos territórios, que são as áreas mais preservadas e ricas em biodiversidade da floresta amazônica. Se há uma autoridade climática no Brasil hoje, essa autoridade somos nós”, afirmou Alana.

A representante da Coiab também destacou a necessidade da COP30, na Amazônia, ser um espaço inclusivo para todos os povos indígenas do mundo, com representatividade real nos processos da conferência. Por isso, a co-presidência indígena na COP30 é uma reivindicação da troika, como reconhecimento da autoridade dos povos indígenas na pauta climática, uma vez que são eles os principais defensores dos biomas que funcionam como sumidouros de carbono.

Ainda segundo Alana, uma co-presidência indígena seria uma oportunidade única de transformar o modo como as negociações climáticas são realizadas no cenário global. Isso incluiria a valorização dos sistemas de conhecimento tradicionais e a inclusão dos povos indígenas no centro das negociações, promovendo uma verdadeira justiça climática.

“A COP-30 será no nosso território. Não aceitaremos que as negociações aconteçam sem a participação das nossas vozes e da nossa autoridade climática. Nada que ameace o futuro da vida será tolerado”, completou Alana.

A troika planeja ser um espaço aberto para todos os povos indígenas compartilharem suas demandas e, juntos, construírem estratégias de incidência na agenda climática global. Para isso, está prevista a realização de uma ação global conjunta no dia 5 de setembro, dia da Amazônia, como manifestação da aliança entre os povos indígenas de diferentes países.

“A aliança reflete as consequências de más decisões e o clamor de socorro da nossa Mãe Terra. A força das culturas indígenas pode transformar. Minha história é a do Pacífico, que sofre com a crise climática. Nosso propósito é repassar nossa cultura e valores, e isso é poderoso”, disse Rufino Varea, do Pacific Islands Climate Action Network.

Veja os objetivos da Troika Indígena

– Estabelecer uma aliança global que represente povos indígenas e seus aliados para advogar por ações climáticas ambiciosas e efetivas em fóruns globais;

– Ampliar a incidência indígena nos níveis internacional, nacional e local, unindo lutas, compartilhando saberes e recursos, e gerando maior visibilidade e resultados efetivos;

– Pressionar as nações ricas para cumprirem suas responsabilidades no financiamento climático e aumentar o financiamento direto para iniciativas lideradas por povos indígenas, garantindo que os recursos cheguem aos mais vulneráveis;

– Encerrar a era dos combustíveis fósseis com uma transição energética justa, aprofundando o que foi acordado na COP 28, com ações urgentes para acelerar a transição, sem prejudicar os povos indígenas e seus territórios;

– Atuar para que as metas climáticas dos países estejam alinhadas com o desafio de redução das emissões de gases de efeito estufa e de proteção da vida no planeta, de acordo com as metas estabelecidas no Acordo de Paris, inserindo nas suas NDCs a demarcação e titulação de terras indígenas como política climática e de biodiversidade.

Fotos: Pepyaká Krikati