Povo Gavião da Montanha no Pará reassume Terra Indígena após luta histórica

Foram 17 anos de disputa judicial e agora as terras indígenas localizadas no município de Novo Ipixuna, ao lado da terra Mãe Maria, foram devolvidas ao povo Akrãtikatêjê

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Publicada em: 20/05/2021 às 15:07

O sonho do cacique Payaré se tornou realidade e a partir desta quarta-feira (19), a Terra Indígena (TI) localizada no município de Novo Ipixuna, próxima a TI Mãe Maria, volta a posse do povo Akrãtikatêjê, os “gaviões da montanha”. Ao todo, foram 17 anos de batalha judicial contra a concessionária Eletronorte. A decisão da justiça ocorreu em 2019, após inúmeros recursos da estatal e agora, as terras retornam aos povos indígenas.

Para a cacique Kátia Silene Valdenilson, primeira cacique mulher do povo Gavião Akrãtikatêjê, essa conquista é ainda mais significativa. Filha do cacique Payaré, ela relembra que foi ele que iniciou esta luta e sonhou com essa vitória. Para Kátia, o resultado inspira os mais jovens e homenageia os parentes mais velhos, que não estão mais presentes.

“Meu pai acreditava na justiça e lá atrás tomou essa iniciativa. Ele sabia que não iria ver o resultado. Ele costumava dizer que iria começar, mas os filhos e netos que iriam terminar. É dessa forma que está acontecendo. Isso é muito importante para os jovens se inspirarem no meu pai. Ele foi um visionário, guerreiro, político, principalmente na área indigena. Incentivou e ensinou muitas pessoas deixando um legado para nós de luta e defesa do território e pela da vida”, comentou a cacique.

Kátia contou que esses anos em que o processo tramitou na justiça foi um período cansativo e de expectativas. E falou sobre os planos para a nova terra assim que voltarem a ocupá-la. A ideia inicial é que parte seja reflorestada e também seja utilizada para gerar emprego e renda para os povos indígenas.

“Hoje sou uma pessoa muito forte, me considero uma guerreira porque me inspirei na luta do meu pai e aprendi a nunca desistir, e sim persistir. Creio que quando essa terra voltar para nossas mãos, iremos pôr em prática os planos dele e reflorestamento e implantar a sustentabilidade para que o povo caminhe com as próprias pernas. De forma que não precise depender de empresa ou de governo, como vivíamos antigamente. Vamos fortalecer essa terra com trabalho, dando visibilidade a nossa cooperativa e assim mostrar para os jovens o valor do território”, finalizou.