A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) vem, por meio desta nota, expressar veemente seu repúdio e revolta a ação violenta da polícia militar contra os povos Guarani e Kaiowá do território Tekoha Gwapo’y Mirim, município de Amambai no estado do Mato Grosso do Sul. O ataque teve início na madrugada da sexta-feira (24) quando a tropa de choque da polícia militar unida a pistoleiros invadiram o território sem ordem judicial para realizar a reintegração de posse, o ataque resultou em dezenas de pessoas feridas, alguns desaparecidos e a morte do jovem Vitor Fernando.
Durante o mês em que o Supremo Tribunal Federal (STF) retirou de pauta a continuação do julgamento do Marco Temporal, o braço do estado que é comandado pelo agronegócio não se intimida em invadir um território indígena e alvejar com tiros famílias com crianças, jovens e idosos. O ataque é chamado de Chacina do Guapoy pelas lideranças da Assembleia Geral do Povo Kaiowá e Guarani (Aty Guasu), durante a tarde o ataque continuou, com apoio de um helicóptero a polícia sobrevoou onde estavam os sobreviventes e disparou tiros contra os indígenas. Tentam matar nossos corpos e macular nossos espíritos, para além da violência física os policiais também queimaram as casas e locais sagrados de reza dos povos Guarani e Kaiowá. Os feridos durante a chacina foram encaminhados ao hospital do município de Amambai e em determinado momento foram proibidos de receber apoio médico, sendo transferidos diretamente para a delegacia civil da cidade, sendo criminalizados pelos ataques que sofreram em seu território.
É inadmissível que nossos corpos sejam violados desta forma pelo agronegócio e com anuência do estado, a violência contra nós povos indígenas tem se tornado cotidianas. No dia em que o indigenista Bruno Pereira foi enterrado sendo mais uma vítima desse estado genocida, às famílias dos povos Guarani e Kaiowá choram a morte dos seus. Essa violência tem comando, sabemos quem ganhará com o genocidio dos povos indígenas, exigimos que o governo do estado do Mato Grosso do Sul e o estado brasileiro seja responsabilizado por essas violências e mortes.
No domingo (25) durante o velório de Vitor Fernando, morto pelos policiais, a liderança da Aty Guasu, Valdenice Guarani, fez um apelo às autoridades através de um vídeo.
“Estamos amanhecendo nesse velório de Vitor Fernando e estamos muito preocupados neste momento, uma de nossas matriarcas, Dona Cecília, foi alvejada com tiros na perna e estava toda machucada, e ao sair do hospital foi levada pela polícia para a delegacia. Segundo informações que recebemos, ela e mais quatro indígenas estão sendo torturados. Estamos desesperados pois a todo momento estão passando com helicóptero e alvejando tiros, por isso estamos pedindo apoio emergencial para nós”, relata.
Nos solidarizamos às famílias dos povos Guarani e Kaiowá.
Por isso, exigimos das autoridades públicas competentes que os responsáveis por essa Chacina sejam presos e que o território Tekoha Gwapo’y Mirim e suas famílias sejam protegidos.
Chamamos, ainda, todas as organizações e cidadãos brasileiros, atentos e preocupados com essa situação – a mais uma vez, resistir conosco aos ataques desferidos por esse governo de caráter retrógrado e autoritário.
Estamos de luto, mas permanecemos na luta e não vamos nos acovardar.
Amazônia, Brasil, 27 de junho de 2022.
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira
Nota de repúdio sobre a violência cometida pela polícia militar contra os povos guarani e kaiowá do mato grosso do sul
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