Mulheres indígenas da Amazônia bradam em defesa dos direitos territoriais e contra a PL da Devastação

Manifestações ocorreram na IV Marcha das Mulheres, que já reúne 4 mil mulheres indígenas de todo o Brasil

Por: Valdeniza Vasques e Ariene Susuí

Publicada em: 03/08/2025 às 15:45

Reunidas em defesa da vida e direitos das mulheres indígenas, lideranças dos nove estados da Amazônia brasileira participaram da abertura da programação da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab) na IV Marcha das Mulheres, que acontece em Brasília até o dia 8 de agosto. Em suas falas, as autoridades indígenas reivindicaram a demarcação dos territórios, soluções climáticas com participação ativa das mulheres indígenas e o veto total do PL da Devastação, que enfraquece o licenciamento ambiental no país.

“Queremos terra demarcada e não queremos os nossos direitos devastados por uma canetada. A luta é única, estamos juntos!”, declarou a coordenadora-geral da Umiab, Marinete Tukano, ao reivindicar a proteção aos direitos territoriais dos povos indígenas e contra o PL 21.159/21, conhecido como PL da Devastação. O projeto de lei foi aprovado em julho pelo Congresso e permite, entre outros dispositivos, o “autolicenciamento ambiental”, colocando em risco territórios indígenas.

A Umiab integra a rede da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), que está apoiando a participação da organização de mulheres na Marcha. O coordenador-geral da Coiab, Toya Manchineri, enfatizou que “todas as mulheres sejam ouvidas e apoiadas. Enquanto organização indígena da Amazônia brasileira, a Coiab está fortemente abraçada com a Umiab. Vamos fortalecer cada vez mais essa organização tão importante na Amazônia brasileira e na Bacia Amazônica”.

A IV Marcha das Mulheres Indígenas já reúne 4 mil mulheres originárias de todos os biomas do Brasil.

Marinete Tukano, coordenadora-geral da Umiab. Foto: Marcelo Dagnoni/Sitoakore

As vozes dos territórios

As representantes das organizações de base estaduais da Umiab ecoaram as reivindicações dos territórios indígenas, que estão sob diversas ameaças, como o Marco Temporal, os efeitos severos dos extremos climáticos, o avanço de grandes empreendimentos predatórios, garimpo, mineração e a violência de gênero, por exemplo. A COP30, que será realizada na Amazônia, também esteve presente nos discursos das mulheres indígenas.

“As mudanças climáticas atingem diretamente as mulheres indígenas nos territórios. Todas nós, parentes, estamos aqui para fazer um pacto pela vida, um pacto no enfrentamento à violência contra as mulheres dentro e fora do território”, disse Socorro Baniwa, da Makira E’ta – Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas.

“Chegar aqui não foi fácil, mas estamos aqui para fortalecer juntas, pois nós  sabemos a violência que sofremos violência. Não vamos arredar o pé em defesa de nossos direitos, ninguém vai nos calar, vamos ecoar nossas vozes, em conjunto”, declarou Ana Katia, representante da Organização de Mulheres Indígenas de Roraima (OMIR).

Luene Karipuna, coordenadora executiva na Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (Apoianp), denunciou o avanço do projeto de exploração de petróleo na Foz do Amazonas, que impacta territórios indígenas no Oiapoque. “Nosso território tem sido leiloado para a exploração de petróleo. É cientificamente comprovado que os combustíveis fósseis são os principais responsáveis pelo avanço das mudanças climáticas, que vêm afetando nossos territórios. Não é possível construir políticas públicas sem ouvir as nossas dores como mulheres indígenas. Somos nós as impactadas pelo garimpo, pela contaminação do mercúrio e pelo petróleo”, afirmou.

Luene Karipuna, coordenadora executiva na Apoianp. Foto: Ronaldo Tapirapé

O desafio da COP30

A representante da Coiab na Bacia Amazônica, Angela Kaxuyana, ressaltou a necessidade de colocar os povos indígenas no centro das decisões climáticas que serão tomadas na COP30, em Belém.

“É importante enfatizar que os territórios indígenas sejam levados como pauta principal da COP30, que vai acontecer num território indígena que é Belém do Pará. A COP30 não pode continuar fazendo tratativas para uma solução do clima sem reconhecer os territórios indígenas como uma política do clima. A COP30 não pode ser limitada aos negociadores,  às grandes empresas, vendendo o que temos mais importante que são nossos territórios. Vamos exigir que a demarcação dos territórios indígenas seja pauta de qualquer negociação de enfrentamento climático pelo Estado brasileiro”, disse.

Os territórios indígenas são grandes sumidouros de carbono do planeta, atuando como barreira fundamental contra os impactos das mudanças climáticas. O movimento indígena reivindica o reconhecimento dos territórios como parte essencial das soluções climáticas assumidas pelos países que integram a COP.

Representantes das organizações de base estaduais da Umiab. Foto: Marcelo Dagnoni/Sitoakore

A participação da rede Coiab e Umiab na IV Marcha das Mulheres Indígenas contou com a parceria das organizações: Hivos, Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira, FIMI, Greenpeace, The Amazon Conservation Team, COICA, Mídia Ninja, Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Tenure Facility, ClimInfo, Amazônia de Pé e The Nature Conservancy Brasil.

Foto de capa: Marcelo Dagnoni/Sitoakore