No dia 14 de setembro, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, por meio da Gerência de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato da Coiab (GPIIRC), entregou oito kits para o apoio ao monitoramento de territórios com presença de povos indígenas isolados nas bacias dos rios Purua e Juruá. Os kits foram direcionados para a Associação Manxinerune Ptohi Phunputuru Potshi Hajene (Mappha), Associação dos Povos Indígenas Kaxinawá do Rio Humaitá (Aspirh) e para as Frentes de Proteção Etnoambiental do Rio Humaitá e Envira, para contemplar as TI Kaxinawá do Rio Humaitá e TI Mamoadate.
A região da fronteira Brasil-Peru abrange os Estados do Acre e Amazonas, especialmente no Vale do Javari que abriga a maior concentração de povos indígenas isolados do mundo. Acre, existem seis registros confirmados de povos indígenas isolados, dois em processo de estudo e um povo indígena de recente contato, os Xinane.
Esses equipamentos serão utilizados nas Terras Indígenas Mamoadate e Kaxinawá do Rio Humaitá. Esta é uma forma de apoiar e empoderar os agentes que estão nos territórios, em que é necessário realizar um monitoramento constante dos povos indígenas isolados, para minimizar os contatos, conhecer as pressões enfrentadas e também prever os avistamentos e aplicar os planos de contingência.
A antropóloga indígena da GPIIRC, Varin Mema (Nelly Dollis), palestrou sobre a atuação da Coiab com os povos indígenas isolados. “Trabalhamos com os projetos para apoiar as organizações de base nas regiões com os isolados, acompanhamos as discussões, propostas de leis, criação de políticas públicas, fazemos campanhas. Estes equipamentos serão utilizados nas áreas com presença de isolados, principalmente para apoiar na comunicação entre os monitores para caso de avistamentos ou vestígios”, aponta.
A entrega aconteceu em Assis Brasil (AC), enquanto representantes da GPIIRC participaram do “Curso de qualificação para profissionais da saúde no contexto dos povos isolados e de recente contato do Distrito Especial Indígena do Alto Rio Purus”.
Integrante da Mappha, Mateus Manchineri recebeu os oito kits para distribuição entre as comunidades contempladas. “Nós vamos usar os equipamentos para monitorar os vestígios dos parentes desconfiados e nos comunicar, tanto entre os servidores (da Funai), os monitores, e também com a comunidade. Ouvimos eles quando vamos pescar, caçar. É importante monitorar para nós não fazermos um contato que possa contaminar, passar alguma doença como gripe, COVID-19”. Na região de Mateus, a TI Mamoadate, há a presença do povo isolado Mahsco.
A Formação em Saúde
A Coiab acompanha e dialoga com o governo no sentido de monitorar as políticas públicas para os povos indígenas. Dessa forma, participa da oficina como continuidade de um Acordo de Cooperação Técnica em construção com a SESAI, incidindo nos processos de formação e prevenção. A Coiab e sua rede desde a primeira reunião da Coordenação Geral e Executiva e a Rede Coiab no MPI, Presidência da FUNAI e Chefia da SESAI se colocou à disposição para reconstrução em conjunto do cenário de destruição no Governo Brasileiro, especialmente nas agências e órgãos vinculados à promoção e proteção dos direitos dos povos indígenas.
O curso é o terceiro oferecido pela Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), após a criação do núcleo de Atenção à Saúde dos Povos Isolados e de Recente Contato na pasta, em 2023. A formação foi direcionada aos profissionais de saúde que atuam em todo o Dsei Alto Rio Purus, que podem estar em situações de contato com povos em isolamento.
Médico indigenista há mais de 30 anos, Douglas Rodrigues apresentou o histórico de contato e contágio ao longo das décadas, e como isso foi fundamental para a depopulação em muitas comunidades a partir da transmissão de vírus e bactérias para grupos ainda sem imunidade. Rodrigues ainda ressaltou a importância da vacinação como estratégica fundamental para a proteção dos povos isolados e de recente contato.
O médico e responsável pelo setor de atenção dos PIIRCs da Sesai, Lucas Albertoni, apresentou aos profissionais da saúde indígena a política e leis que balizam a prática. “Vale ressaltar a importância da participação de organizações como a Coiab, que têm experiencia, atuam na construção de políticas públicas e trabalham com povos isolados em uma formação como esta”, pontuou Albertoni.
Dentre os principais pontos, a importância do uso de EPIs em situação de contato, além da necessidade de altas taxas de vacinação e controle de doenças causadas por parasitas nas comunidades do entorno. Outra informação foi o como proceder com as principais vacinas em caso de um contato, registro e documentação dessas imunizações, para gerar proteção no grupo completo.
Monitoramento de povos indígenas isolados no Acre ganha reforço com kits entregues pela Coiab
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