O final de fevereiro trouxe um momento histórico para os Xikrin, povo que vive no Sudoeste do Pará. Na ocasião, a jovem Kôkôti Xikrin, de 28 anos, foi empossada como a primeira cacica de seu povo. Esta é a primeira vez que uma mulher assume este posto, aumentando a presença feminina nos espaços de liderança dos indígenas paraenses.
O fato foi tão marcante que a prefeitura de Parauapebas, que possui políticas públicas específicas para a população indígena da cidade, realizou uma cerimônia pública para marcar este momento. O evento aconteceu no dia 20 de fevereiro, na aldeia Djudjekô. Participaram da cerimônia representantes de 11 aldeias Xikrin, além de outras lideranças de 43 aldeias Kayapó e autoridades do município.
Kôkôti Xikrin é casada, mãe de três filhos, e vai liderar os indígenas da aldeia Krimei, uma das nove aldeias localizadas em Parauapebas. Por sempre ter se interessado pelas questões de seu povo, ela foi eleita por seu pai e aclamada por sua comunidade.
Força e voz
Em entrevista logo após sua posse, Kôkôti afirmou que estava muito contente e alegre de ser empossada. “As mulheres têm tanta força quanto os homens. E mesmo que muitas mulheres não falem o português, é preciso reconhecer que elas precisam ter voz”, disse a cacica.
Outras lideranças femininas reconhecem o protagonismo de Kôkôti. A assistente social O-É Paiakan Kaiapó, de 36 anos, vai assumir em breve o cacicado da Aldeia Krenhyedjá, na cidade de Ourilândia do Norte, no Pará. “Esta é a primeira vez que uma mulher Xikrin assume este posto. Kôkôti está quebrando barreiras e fazendo história”, disse O-É.
Os caciques – ou cacicas, no caso das mulheres – são uma autoridade política das aldeias. É um cargo que permanece nas famílias, passando de pai para filhos. O cacique representa sua aldeia em fóruns externos, é o porta-voz daquela comunidade e organiza aquela população (para recebimento de benefícios sociais e para manifestações culturais, por exemplo). Ele também é mediador de conflitos e atua como árbitro em discussões.
Vice-presidenta da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), Puyr Tembé contou que “não é de hoje” que as mulheres indígenas ocupam espaços importantes. “Em nossas aldeias e comunidades, somos educadoras, enfermeiras, parteiras, benzedeiras, comunicadoras”, disse.
Ainda assim, ela afirmou que fazer com que as mulheres indígenas ocupem espaços de poder formal é muito importante para a sociedade: “Estar nesses lugares de construção de políticas públicas mostra a força, a capacidade, o raciocínio e tudo o que a mulher indígena faz pela proteção da floresta e da vida”.
Sobre os Xikrin
Os Xikrin reúnem uma população de duas mil pessoas, que vivem na Terra Indígena Xikrin do Cateté. Esta Terra Indígena foi homologada em 1991, tem 439 mil hectares e engloba áreas das cidades de Água Azul do Norte, Marabá e Parauapebas. Ela sofre forte pressão ambiental, principalmente por garimpeiros, e abriga também povos isolados e indígenas Kayapó.
Em 2020, os Xikrin do Cateté sofreram bastante com a pandemia do coronavírus. Sete representantes deste povo faleceram em decorrência da COVID-19, incluindo algumas grandes lideranças como Teptap Xikrin, Ikrore Xikrin, Anoyre Xikrin e Bep Karoti Xikrin. Outro ancião, Bemok, morreu em julho do ano passado[/url] sem ar em um leito de hospital em Marabá.
Momento histórico: Nação Xikrin empossa sua primeira cacica
Líder da Aldeia Krimei, Kôkôti Xikrin é a primeira mulher nomeada cacica por seu povo
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