Nesta segunda-feira (7), os alunos do Curso de Formação Estratégica para Lideranças Indígenas, uma iniciativa da Coiab por meio do Centro Amazônico de Formação Indígena (Cafi), apresentaram no Acampamento Terra Livre (ATL) os temas de pesquisa que desenvolverão ao longo do curso de três meses. A formação faz parte do projeto Redes Indígenas da Amazônia, desenvolvido pela Coiab em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) do Brasil e aporte financeiro do Fundo Amazônia/BNDES.
Temáticas como língua materna, luta contra a violência territorial, a juventude como guardiã da cultura, bem-viver dos povos indígenas, fortalecimento do movimento de mulheres, preservação cultural, entre outras, são os objetos de pesquisa das lideranças. Os trabalhos serão apresentados ao final do curso, como resultado de sua trajetória dentro da formação, incorporando elementos dos módulos estudados.
“Não queremos que a nossa cultura seja exposta só num dia ou num evento, mas que seja vivenciada diariamente na comunidade. O caminho a seguir é a valorização e vivência da cultura”, disse Giselle Wapichana, liderança de Roraima que fará um trabalho sobre preservação cultural em tempos de mudança.
Outro cursista que abordará a cultura é Ismael Krikati, do estado do Maranhão, cujo tema de pesquisa é o papel da juventude krikati como guardiões da cultura, seus desafios e possibilidades. Alguns dos desafios citados por Ismael são o uso inadequado de tecnologia e o colonialismo, que podem ser superados com estratégias como uso crítica e consciente das ferramentas tecnológicas e a prática da cultura krikati.
Inara Waty, liderança Sateré-Mawé do Amazonas, pesquisará sobre “O caminho das Mulheres Sateré-Mawé rumo à sustentabilidade. Segundo ela, “o movimento indígena de mulheres precisa ser ouvido e respeitado dentro e fora dos territórios. Ainda não temos uma política pública voltada para as mulheres indígenas. Sem luta, organização e sustentabilidade econômica, isso torna-se um desafio maior ainda. Precisamos fortalecer a autonomia e segurança das mulheres indígenas”.
Fortalecimento
O coordenador-geral do Cafi, Toya Manchineri, ressaltou a importância do Cafi para fortalecer o movimento indígena da Amazônia.
“O Cafi é uma ideia das antigas lideranças que as lideranças atuais retomaram para trabalhar. Como uma ideia, ele não tem paredes. Podemos fazer formações em Brasília, na Amazônia colombina ou peruana, porque o Cafi não é uma casa, é uma ideia. O trabalho que realizamos valoriza a participação da juventude e a paridade de gênero. Essa formação vem para fortalecer o conhecimento dessas lideranças para fazer frente em seus territórios, organizações e associações”, afirmou.
O Curso de Formação Estratégica para Lideranças Indígenas reúne 30 lideranças, homens e mulheres, dos nove estados da Amazônia brasileira. Com duração de três meses, as lideranças têm aulas em módulos que abordam temas estratégicos da atualidade para o movimento indígena.
Participaram ainda da mesa do curso a gerente do Cafi, Gracinha Manchineri; a representante da Coiab na Bacia Amazônica, Angela Kaxuyana; a professora Chikinha Paresi, docente de um dos módulos do curso; o coordenador do projeto Redes Indígenas na TNC Brasil, Fernando Bittencourt; e o gerente da Estratégia de Povos Indígenas da TNC Brasil, Helcio Souza.
Sobre o Projeto Redes Indígenas da Amazônia
Com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), através do Fundo Amazônia, o projeto é desenvolvido pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), em parceria com a The Nature Conservancy do Brasil (TNC Brasil), com o intuito de promover estruturas, ferramentas e capacidades institucionais e técnicas para as nove organizações indígenas nos estados da Amazônia Legal, além da União das Mulheres Indígenas da Amazônia (Umiab). As nove organizações indígenas que compõem a rede da Coiab são: Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amapá e Norte do Pará (APOIANP), Articulação dos Povos Indígenas do Amazonas (APIAM), Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins (ARPIT), Conselho Indígena de Roraima (CIR), Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas do Maranhão (COAPIMA), Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (FEPOIMT), Federação Estadual dos Povos Indígenas do Pará (FEPIPA), Movimento Indígena do Acre e Organização dos Povos Indígenas de Rondônia e Noroeste do Mato-Grosso (OPIROMA).
Fotos: Pedro Tukano