A Terra Indígena Koatinemo, localizada no estado do Pará, foi palco de uma importante agenda política e institucional envolvendo lideranças indígenas do povo Asurini, representantes da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), do Fundo Territorial Tenure Facility e do governo do Reino Unido.
A visita integra o projeto “Garantindo Direitos Territoriais dos Povos Indígenas da Amazônia” e teve como objetivo central discutir estratégias de proteção da Terra Indígena Ituna/Itatá, uma das mais ameaçadas por grilagem, garimpo e desmatamento ilegal na região. Estiveram presentes o coordenador-geral da Coiab, Toya Manchineri, o representante da Tenure Facility, Aurélio Viana, e o delegado do governo britânico, Oliver O’Loughlin.
Durante o encontro, realizado na Aldeia Ita’Aka, lideranças Asurini destacaram a importância da demarcação da TI Ituna/Itatá não apenas para os povos indígenas em isolamento voluntário, mas também para a memória ancestral do próprio povo Asurini. A comunidade relatou ter encontrado vestígios de uma antiga aldeia dentro da área em disputa, incluindo cerâmicas, evidenciando sua ligação histórica com o território.
“A Ituna/Itatá precisa ser melhor estudada. Encontramos vestígios de uma aldeia antiga onde os Asurini viveram. Isso não está registrado oficialmente, mas nos preocupa”, relatou a liderança Asurini Tukura.
A portaria declaratória da TI Ituna/Itatá tem validade até 26 de junho de 2025. Sem a renovação ou a efetiva demarcação, o território fica ainda mais exposto a invasores. A Coiab, por meio de posicionamentos já expressos na Pré-COP, defende a urgente regularização fundiária da área.
O coordenador Toya Manchineri ressaltou o papel da Coiab em apoiar a construção de um plano de ação junto às lideranças locais. “A visita nos permite conhecer melhor a realidade do território e apoiar iniciativas em curso. Vamos trabalhar com as associações do povo Asurini no fortalecimento da proteção, da economia indígena e da valorização cultural”, afirmou.

Coordenador-Geral da Coiab em visita ao Território Indígena Koatinemo – PA. Foto: Vicente Taveira, 2025.
A visita também teve caráter diplomático. Representantes do governo britânico reiteraram o compromisso do Reino Unido com a proteção das florestas tropicais e com os direitos dos povos indígenas como parte da estratégia internacional de enfrentamento à crise climática.
“A Tenure Facility nasceu com a missão de apoiar os povos indígenas e comunidades locais no avanço da garantia de seus direitos territoriais. Essa visita é um passo importante nessa direção”, destacou Aurélio Viana.
A Gerência de Povos Isolados e de Recente Contato da Coiab (GPIIRC) também participou da agenda e anunciou que irá promover oficinas com associações do povo Asurini para planejar ações de proteção no território e arredores. “A presença da Coiab aqui é uma oportunidade de diálogo e fortalecimento de ações voltadas aos povos em isolamento. Esse conselho formado pelas associações Asurini é um avanço importante”, afirmou o gerente Luiz Fernandes.
A visita é fruto de uma demanda apresentada pelas lideranças Asurini durante o Acampamento Terra Livre 2025, na tenda da Coiab, cujo tema central foi a importância da demarcação dos territórios para o equilíbrio climático e a garantia dos direitos indígenas.
A Coiab, junto ao Fundo Indígena da Amazônia Brasileira – Podáali, que faz a gestão do projeto e com o apoio da The Tenure Facility, estão a frente do Projeto Garantindo os Direitos Territoriais dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira, que visa apoiar o fortalecimento das organizações de cinco TIs da amazônia brasileira: TI Kaxuyana-Tunayana (PA), TI Kapyra-Kanakury (AM), TI Riozinho do Iaco (AC), TI Ituna-Itatá (PA) e TI Akroá-Gamella (MA), para avançar na garantia dos seus direitos constitucionais.