Seguindo a programação da Umiab na IV Marcha das Mulheres Indígenas, na tarde deste domingo, 3 de agosto, na Tenda da Amazônia, que carrega o tema “Pelo Clima e Pela Amazônia: A Resposta Somos Nós!”, as mulheres presentes puderam participar de um diálogo sobre a COP30. O momento foi marcado pela fala da copresidente do Fórum Internacional de Povos Indígenas sobre Mudanças do Clima pela Região da América Latina e Caribe (Caucus de Povos Indígenas da UNFCCC), Sineia do Vale, do povo Wapichana.
Em sua fala, ela reforçou a importância da participação das mulheres nos debates sobre as mudanças climáticas, pois são elas as mais impactadas. Explicou o que é a COP, trouxe um histórico da participação dos povos indígenas dentro da Conferência e ressaltou os desafios a serem enfrentados nesse evento, além de destacar a demarcação de terras indígenas como uma proposta dos povos indígenas a ser incluída na NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada).
“Nós estamos vivendo uma emergência climática! E o que tem a ver a demarcação com o clima? Estamos falando de uma política de direito, e todas as violações dos territórios contribuem diretamente para o enfrentamento às mudanças climáticas. As mulheres estão sendo impactadas. Não há justiça climática sem demarcação dos territórios indígenas”, refletiu Sineia.
Durante o debate, a advogada da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Auzerina Macuxi, trouxe uma fala de formação, sobre o cenário atual dos projetos de lei que afetam diretamente os territórios indígenas, como o Marco Temporal e o PL da Devastação.
“A lei anti-indígena é uma violência de direitos que afeta diretamente os corpos das mulheres indígenas. Estamos acompanhando no STF e no Congresso Nacional o andamento desse projeto genocida que fere os direitos dos povos indígenas garantidos na Constituição”, destacou Auzerina.

Foto: Ronaldo Tapirapé
Vozes das mulheres da Bacia Amazônica
Vindas de seis países da Bacia Amazônica, mulheres de organizações do Peru, Equador, Colômbia, Panamá e Bolívia estiveram na tenda da Umiab para, juntas, se fortalecerem e ecoarem suas vozes coletivamente.
“É uma honra ver um espaço de luta organizado para a defesa dos territórios. Se não lutarmos, não vamos conseguir. Nossa luta não é só pela proteção das florestas, mas sim pela proteção dos territórios”, destacou Amalia Añez de Garrido, da FENAMAD – Peru, secretária e coordenadora de Saúde Indígena e da Área Mulher Indígena da FENAMAD.
“Nos ensinaram que nossa mãe é a terra e o pai é um tigre, os rios são nossos tios, e nossa luta é contínua. Nós não somos apenas cuidadoras e guardiãs — somos donos e donas, pois é ali que nossos ancestrais nasceram. E nós, como mulheres, estamos sempre lutando pelos nossos territórios, e muitas vezes não somos reconhecidas”, disse Teresita Antazú, da AIDESEP – Peru, responsável política do Programa Mulher Indígena da AIDESEP e vocal do Conselho Diretivo Nacional da AIDESEP.
O Brasil sediará a COP30 este ano, e a Coiab será a anfitriã indígena. Visando esse espaço, a delegada da Comissão Nacional de Mulheres Indígenas da Colômbia (CNMI) e comissionada de Mulher, Família e Geração da AICO, Yaqueline Torres Melo, pediu a presença das mulheres indígenas nos espaços de decisão.
“Este espaço, em que podemos contar nossa experiência e nossa visão, se fundamenta no nosso conhecimento. Que possamos ter uma comissão de mulheres na COP30 e que tenhamos poder de decisão. As problemáticas das mudanças climáticas são questões de alcance global. A mãe terra é a mãe de todas as lutas. Somos o presente e somos semente de vida e de futuro”, disse Yaqueline Torres Melo.
Foto de capa: Ronaldo Tapirapé