Com cantos tradicionais, discursos emocionados e a presença de lideranças de vários povos amazônicos, chegou ao fim nesta semana (16 e 17 de maio) o curso de “Formação Estratégica para Lideranças Indígenas”. Realizado ao longo de três meses, o programa capacitou 34 representantes de mais de 20 povos indígenas para atuar em áreas como políticas públicas, direitos indígenas e meio ambiente.
“Hoje encerramos uma etapa, mas iniciamos uma nova jornada de protagonismo e resistência”, afirmou a jovem Jucimery Garcia do Povo Tariano, uma das concluintes do curso. “Voltamos para nossas comunidades com ferramentas para lutar por nossos direitos e defender a floresta.”
Durante a tarde do dia 16 e o decorrer do dia 17, foi realizada a avaliação dos trabalhos dos cursistas, a banca de avaliação dos trabalhos apresentados pelos cursistas foi realizada pelo presidente da banca, o Coordenador-Geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Toya Manchineri; a Mestra em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas, Sileusa Monteiro; a Mestra em Ciências de Florestas Tropicais pelo Instituto de Pesquisas da Amazônia, Letícia Cobello; Doutor em Agroecologia em Desenvolvimento Rural e auxiliar de Coordenação do Centro Amazônico de Formação Indígena, Fernando Schneider; Dr. João Paulo Barreto, Doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Amazonas e a Gerente de Projetos da Coiab, Clara Vignoli.
Coordenador-Geral da Coiab , Toya Manchineri e Nara Baré, Ex-Coordenadora da Coiab na abertura das apresentações finais dos cursistas. Foto: Antônio Marinho. Manaus, 16 de maio de 2025.
A cerimônia de encerramento ocorreu em Manaus, reunindo professores, parceiros institucionais, organizações indígenas e convidados. Com entrega de certificados do curso a mesa de autoridades indígenas e convidados na formatura foi formada pelo Coordenador Geral da Coiab, Toya Manchineri, a Coordenadora da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira, Marinete Tukano, o Diretor Executivo Financeiro do Fundo Indígena da Amazônia Brasileira – Podáali, Sandro Baré, a Coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Amazonas, Mariazinha Baré, a representante da Inspetoria Laura Vicuna, Irmã Socorro Naveca e a representante da UNICEF, Rayanne Baré.
Valda Wajuru, do Povo Wajuru é a vice-presidente do Conselho Deliberativo da Coiab e também participou do curso e comenta “Este curso representa um marco na capacitação de lideranças indígenas, visando fortalecer sua atuação em defesa dos direitos dos povos originários e na preservação dos territórios ancestrais. Tivemos a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos em temas estratégicos, como história do movimento indígena, legislação nacional e internacional, mudanças climáticas, mercado de carbono, gestão ambiental, entre outros”.
Formação com identidade
O curso foi desenvolvido com uma metodologia específica para contextos indígenas, integrando saberes tradicionais e conhecimentos acadêmicos. Oficinas sobre políticas públicas, direito constitucional e comunicação comunitária foram combinadas com rodas de conversa e trocas de experiências interétnicas.
“O diferencial está na valorização da cosmovisão indígena. Não é apenas sobre formar lideranças, mas fortalecer identidades e preparar jovens para atuarem com orgulho de quem são”, destacou o Dr. em Antropologia Social e membro da banca avaliadora, Paulo Barreto, do Povo Yepá Mahsã, conhecido também como Povo Tukano.
Impacto e continuidade
A iniciativa, promovida por uma parceria com a The Nature Conservancy (TNC), financiada pelo Fundo Amazônia, foi aderida pelas organizações indígenas de base da Coiab, já com projeção para uma nova edição em 2026. Os formandos agora devem retornar a suas comunidades e aplicar os conhecimentos e projetos voltados aos temas de sustentabilidade, educação, governança territorial e muitos outros temas.
“O futuro da Amazônia está nas mãos desses jovens”, afirmou a liderança jovem Aleixo Wapichana, um dos cursistas. “Eles estão preparados para dialogar com o governo, com as empresas, com o mundo. Mas sempre a partir de seus valores”.
Coordenador-Geral da Coiab, Toya Manchineri em discurso na formatura do curso. Foto: Doetiró Tukano. Manaus, 17 de maio de 2025.
Desafios pela frente
Apesar dos avanços, os desafios que permanecem: acesso à internet nas aldeias, continuidade de financiamento e a proteção de lideranças ameaçadas por conflitos territoriais. A expectativa é que os recém-formados também ajudem a pressionar por políticas públicas mais eficazes para os povos indígenas.
O Coordenador-Geral da Coiab ressalta a importância do curso promovido pelo Centro de Formação Amazônica de Formação Indígena (CAFI) “Esse curso é importante porque é um espaço de formação política e técnica para liderança indígena, sendo um velho sonho das lideranças indígenas da Amazônia. Nosso próximo passo é o reconhecimento do CAFI pelo MEC como centro de formação certificado e no futuro é transformá-lo em universidade indígena. O CAFI já formou doutores e médicos, além de profissionais formados na cultura e perspectiva indígenas”.
Fotos: Doetiró Tukano e Antônio Marinho