“Corredores territoriais são vida”: Coiab alerta na COP30 a urgência de proteger territórios indígenas na Amazônia

Lideranças indígenas afirmam que proteger os povos e o clima exige articulação, financiamento e combate ao crime nas fronteiras amazônicas.

Por: Antônio Marinho Piratapuya

Publicada em: 14/11/2025 às 08:07

“Os corredores territoriais são vida”. A afirmação contundente de Toya Manchineri, coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), destacou a participação da organização no painel que discutiu a importância e os desafios das iniciativas de proteção dos corredores territoriais na Amazônia. O debate ocorreu no pavilhão da Fundação Rainforest e do Instituto Socioambiental (ISA), na Zona Azul da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), espaço que concentra discussões sobre soluções e projetos voltados à agenda climática global.

No evento, Toya destacou que os corredores territoriais não são apenas áreas contínuas de floresta preservada, mas “espaços essenciais para a vida”, fundamentais tanto para os povos indígenas, inclusive dos povos indígenas em isolamento voluntário, quanto para a manutenção dos ecossistemas e para que os Estados cumpram seus compromissos internacionais de redução do desmatamento e mitigação do aquecimento global.

Ele ressaltou que esses corredores só se mantêm firmes com o trabalho constante das comunidades e organizações indígenas, em aliança com instituições parceiras.

“É necessário que os estados reconheçam todo esse esforço. Precisamos fortalecer e dar continuidade ao financiamento das ações dentro dos territórios”, afirmou.

Toya defendeu ainda que a proteção territorial exige muito mais do que demarcação: requer vigilância estruturada, fortalecimento das associações locais, apoio a economias sustentáveis e, sobretudo, orçamento público permanente destinado às políticas que garantem a autonomia e a integridade das terras indígenas.

“As cooperações internacionais são importantes, mas o Estado é o responsável por assegurar a continuidade dessas ações”, reforçou.

O painel também contou com a participação de Jorge Pérez, presidente da Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (AIDESEP), que alertou para o avanço de legislações no Peru que, segundo ele, favorecem o crime organizado e ampliam a vulnerabilidade das florestas e dos povos indígenas que vivem no vasto corredor transfronteiriço que conecta Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia e Venezuela.

Pérez criticou normas como a REINFO (Registro Integral de Formalização Minera) do Peru, que, em sua análise, “dá uma máscara aos criminosos”, legitimando atividades ilegais e ampliando a expansão da mineração e do narcotráfico sobre territórios indígenas. Ele afirmou que, se medidas urgentes não forem tomadas, “um corredor da vida, com mais de 28 milhões de hectares, pode se transformar em um corredor para a morte”.

Jorge Pérez, presidente da AIDESEP – Crédito: Kaiti Gavião / Coiab

O líder indígena destacou que o avanço das organizações criminosas tem resultado no assassinato de defensores ambientais e lideranças indígenas. Por isso, cobrou respostas imediatas não apenas dos governos nacionais, mas também da comunidade internacional, por meio de pressões diplomáticas para que os estados cumpram seu dever de proteção.

Tanto Toya quanto Pérez convergiram na defesa de ações integradas entre organizações indígenas, instituições não indígenas e governos dos países amazônicos. Para os dois, enfrentar o crime organizado, fortalecer a vigilância territorial e assegurar políticas de longo prazo exige articulação regional, especialmente nas áreas de fronteira.

Apesar das ameaças, Pérez também destacou que o corredor pode se tornar “um corredor de esperança”, desde que os estados assumam suas responsabilidades e que as organizações indígenas sigam unidas na defesa das florestas e dos direitos dos povos originários.

O painel reforçou que proteger os corredores territoriais é proteger vidas, culturas, biodiversidade e o próprio futuro climático do planeta, um alerta que ecoa com força na COP30.

Foto capa: Kaiti Gavião