Coiab reúne lideranças para planejar estratégias de incidência rumo à COP 30 no Brasil

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Publicada em: 31/07/2024 às 15:10

De forma pioneira, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) promoveu um encontro para construir o planejamento da incidência indígena rumo à 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP 30, que será realizada em 2025 em Belém (PA). A iniciativa nasce dentro da Amazônia brasileira, que vem sendo castigada pelos efeitos das mudanças climáticas e é tida como peça-chave para o equilíbrio climático e o futuro da humanidade.

Cerca de 80 comunicadores e lideranças indígenas reuniram-se para construir o Plano de Comunicação Estratégica da Agenda Climática da Coiab. O encontro, ocorrido entre os dias 22 e 26 de julho em Manaus (AM), teve como objetivo fortalecer a agenda climática e a incidência dos povos indígenas no debate global sobre o enfrentamento às mudanças climáticas, visando a COP 30. Durante a ‘COP da Amazônia’, serão revisadas as NDCs [Contribuições Nacionalmente Determinadas], isto é, as metas e os compromissos de redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE) assumidos por cada país signatário do Acordo de Paris.

O encontro, organizado pela Gerência de Comunicação da Coiab, foi mediado e facilitado pelo Coletivo Proteja e contou com a participação de representantes das organizações de base da rede Coiab, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), União das Mulheres Indígenas da Amazônia (Umiab), Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira e Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme). Participaram ainda parceiros da Coiab, como a The Nature Conservancy Brasil (TNC Brasil), Nia Tero, 350.org, ClimaInfo e Greenpeace Brasil.

A programação visou estabelecer objetivos, estratégias e ações para fortalecer a incidência da Amazônia indígena em agendas internacionais do clima. Além das COPs, o plano mira eventos como a Semana do Clima de Nova York, a Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (a COP da Biodiversidade), além de encontros estratégicos como a reunião da cúpula do G20, marcado para acontecer em novembro no Rio de Janeiro.

Entre as frentes apontadas pelos comunicadores e lideranças, estão a Formação Continuada, Incidência e Articulação Política e Financeira, Fortalecimento da Rede de Comunicadores e Visibilidade de Temas Estratégicos, como demarcação de terras, transição energética justa, economia indígena, dentre outros.

Para o coordenador-geral da Coiab, Toya Manchineri, o encontro foi um passo importante para definir estratégias de como comunicar ‘para fora’, além do movimento indígena.

“Temos uma rede de comunicadores consolidada e precisamos nos qualificar ainda mais para podermos levar nossa voz e pensamento de forma que a gente consiga entrar na cabeça, não do nosso parente, mas dos empresários e outros públicos. A resposta somos nós. Como vamos mudar o pensamento do empresário? Temos que construir uma narrativa muita boa para fazer com que ele reflita o modo que ele está trabalhando no meio ambiente que não só é dele, mas de toda a nação. Hoje a Coiab pode apoiar, pensar além dos seus muros. Fico muito contente por este momento, onde o movimento novamente se torna grande e se consolida. Cabe a cada um de nos fortalecer cada vez mais a nossa Coiab, a nossa embaixada dos povos indígenas da Amazônia brasileira, para crescermos enquanto política pública”, afirmou o coordenador-geral.

Kleber Karipuna, representante da Coiab na Apib, destacou a importância do encontro para crescer o protagonismo dos povos indígenas, “para que a gente continue sempre nesse processo de qualificação, formação e visibilizando novas lideranças para o movimento indígena, principalmente da Amazônia brasileira”, disse.

Segundo Angela Kaxuyana, representante internacional da Coiab, a consolidação e ampliação da rede de comunicadores da Amazônia brasileira passa a ser referência para povos e organizações indígenas de outros países.

“A partir do empoderamento e formação, vocês [comunicadores e lideranças], passam a ser referência para os parentes dos países vizinho. Ninguém mais vai falar sobre nós [povos indígenas] da forma que falava antes. O domínio do conhecimento que vocês têm sobre nossas vidas e sobre o que queremos comunicar vai ser considerado mais importante e legítimo que qualquer outra comunicação”, declarou ela.

A diretora-executiva do Fundo Podáali, Valeria Paye, destacou a integração entre as gerações, desde os jovens comunicadores até lideranças mais antigas do movimento.

“Dá para ver aqui a junção de todos, da comunicação, das lideranças de diversos níveis que compõem o nosso movimento. Isso foi importante para mim, estar aqui, acompanhar e saber que a gente está caminhando e amadurecendo. Junto com a equipe do Podal, as nossas lideranças nos delegaram uma missão que temos que cumprir de forma excelente, porque temos formações e qualificações para fazer a coisa acontecer. As nossas lideranças são lideranças políticas que têm essas ligações que a gente tem que colocar, trazer para o chão e fazer a coisa acontecer. É desse jeito que vi a construção desse planejamento da comunicação”, disse Valeria.

Ao final do encontro, foi elaborado um manifesto que sintetiza os sentimentos e anseios da rede Coiab e parceiros para o papel dos povos indígenas na agenda climática global:

Na angústia diante da destruição, uma pergunta ecoa,
O futuro se esfuma, e a dúvida ressoa.
A natureza chora, rios clamam por paz,
Florestas em fogo, um destino fugaz.

Mas, dos territórios, os povos se levantam,
Sabedoria antiga, que o tempo encanta.
Os povos da terra, guardiões da canção,
Com raízes profundas, apontam a direção.

Nós sabemos dos ciclos, do céu e do chão,
Respeitamos a vida, em cada estação.
Com olhos de onça, e ouvidos do vento,
Guardamos a esperança, em cada momento.

A resposta, tão nítida, vem de quem põe a mão na terra,
de quem tem o pé no chão,
Da sabedoria dos povos, em genuína união.
Para a pergunta que arde, que clama por paz,
Existe futuro? A resposta somos nós!

Territórios indígenas, política climática essencial,
Protegendo a Terra, vínculo ancestral.
Cada pedaço de chão, um ato de resistência,
Santuários vivos, garantia de existência.

Economia indígena, práticas que ensinam,
Sustentabilidade em cada ação que ilumina.
Cultura viva, modos de viver e produzir,
Equilíbrio sagrado, que devemos seguir.

O bem viver, filosofia que nos guia,
Harmonia com a natureza, em cada dia.
Sabedoria ancestral, que floresce e resplandece,
Um caminho de justiça, que a todos enriquece.

O encontro foi possível com o apoio da Fundação Ford, projeto Conservando Juntos, da WCS Brasil em parceria com a Coiab, e Climate and Land Use Alliance (CLUA).

Texto: Valdeniza Vasques

Foto: Edilma Prada Céspedes