A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) divulgou, nesta sexta-feira (21), o Relatório do Plano de Ação Emergencial de Combate ao Avanço do Coronavírus e de Tratamento entre os Povos Indígenas da Amazônia Brasileira. Intitulado Covid-19 e os Povos Indígenas na Amazônia Brasileira, o documento reúne dados e informações das ações do plano entre março e novembro de 2020, período que se configura com a primeira onda da pandemia no Brasil.
Desde março de 2020, quando foi confirmado o primeiro caso de contaminação em um jovem indígena no município de Santo Antônio do Içá, no Amazonas, a Coiab vem desenvolvendo ações contínuas e emergenciais de combate ao coronavírus. O ponto de partida foi a elaboração deste plano de ação emergencial[/b] que se consolidou como uma ferramenta fundamental para o diálogo, construção das ações e apoios de aliados, parceiros governamentais e não governamentais no combate ao coronavírus entre os povos indígenas nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Roraima, Rondônia e Tocantins.
O plano foi construído e executado com base em quatro linhas de ação: Comunicação, Gestão e Governança, Ações Emergenciais de Assistência e Cuidados Básicos e Soberania Alimentar e Medicina Indígena. Todos os eixos foram orientados e analisados pela coordenação, equipe técnica e Comitê Indígena da Coiab, a partir de demandas das regiões que foram levantadas por lideranças indígenas. Para acompanhar e monitorar a execução do plano, a Coiab instalou um comitê interno que continua operacionalizando as ações e atividades junto às organizações e povos indígenas, mapeando as demandas e denúncia dos povos, acompanhando e sistematizando todos os dados sobre os indígenas infectados e óbitos, mobilizando os parceiros e organizações para juntos atuarem de forma concreta e com toda a segurança no combate e tratamento a essa pandemia.
“A partir da confirmação do primeiro caso de covid-19 em uma indígena, a Coiab adotou ações de combate e enfrentamento à pandemia. A execução do plano foi e tem sido fundamental. Nesse primeiro ano, as ações emergenciais foram executadas e distribuídas de acordo com a necessidade de cada povo e organização. Esse trabalho em conjunto nos permitiu chegar a diversos territórios e aldeias indígenas, inclusive àquelas em contexto urbano em todos os estados da Amazônia Brasileira e isso tudo só foi possível graças ao trabalho de toda a Rede das organizações”, destacou Nara Baré, coordenadora executiva da Coiab.
Dados Epidemiológicos
Dados da Rede Coiab, acrescentados de registros dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs), no período de 19 de março a 30 de novembro de 2020, mostram que a Amazônia Legal possuía 29.350 casos confirmados, sendo uma taxa de incidência de 6772,61 (a média nacional, até então, era de 3552,7).
Nesse mesmo período, o número de óbitos de indígenas pelo coronavírus atingiu 709 mortes e quando observado pela população indígena das Unidades Federativas (UF), a partir dos dados do IBGE (2020), houve uma taxa de mortalidade acima da média nacional (89,1/100.000) em todos os estados. Sendo Mato Grosso (265,0/100.000), Amapá (269,9/100.000) e Rondônia (267,7/100.00) com as maiores taxas. Seguido de Maranhão (177,7/1000.000), Roraima (173,5/1000.000), Pará (171,8/1000.000) e Acre (170,7/1000.000). Já o Amazonas (119,9/1000.000) e Tocantins (92/1000.000), apesar de apresentarem as menores taxas comparados aos outros estados, continuam acima da média nacional.
Resultado nos quatros eixos
Os resultados das ações conjuntas da Coiab com parceiros e apoiadores, tendo como base o plano de ação emergencial, atendeu a necessidade de 98% das demandas nos territórios indígenas e regiões que compõem a Amazônia brasileira, área de atuação da Coiab.
Na Comunicação, por meio de sua assessoria, a Coiab empreendeu de forma pioneira a divulgação de dados. Além de acompanhar o monitoramento dos casos, a Assessoria de Comunicação trabalhou na produção de materiais informativos em diferentes formatos e línguas indígenas. Podcasts, vídeos, cartazes, panfletos, entre outros, foram amplamente difundidos pela rede de organizações indígenas. Todos esses materiais foram fundamentais para a divulgação das medidas preventivas e das ações de enfrentamento à pandemia entre os povos indígenas da Amazônia.
Para gestão e governança, foi criado o Comitê Indígena da Coiab, que acompanha a situação da covid-19 nos estados de atuação da rede. Ao longo desse período, a Coiab participou de ações estratégicas em diversos espaços institucionais como a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos Indígenas do Congresso Nacional, e também apresentou denúncias junto aos organismos internacionais de Direitos Humanos, relacionado a violação dos direitos dos povos indígenas e ao poder judiciário.
As ações emergenciais de assistência e cuidados básicos foram voltadas às aquisições, disponibilização e distribuição de produtos básicos como gêneros alimentícios (cestas básicas), material de limpeza e higiene, Equipamento de Proteção Individual – EPI’s (máscara, luva, bota), testes rápidos, combustível, materiais de pesca, ferramentas de roça para garantir a produção de roça e evitar acesso às cidades, a instalação e apoio nas Unidades de Atenção Primária Indígena (UAPI’s) e das Barreiras Sanitárias e Epidemiológicas, além de outros suprimentos emergenciais. Entre os meses de março a novembro de 2020, a Coiab realizou a aquisição desses materiais, com a finalidade de apoiar as comunidades indígenas da Amazônia Brasileira que apresentavam grandes índices de contaminação pela Covid-19.
O eixo da soberania alimentar e medicina indígena teve como objetivo fortalecer as iniciativas das mulheres indígenas na produção de alimentos nas comunidades indígenas. Contribuindo para a aquisição de equipamentos a serem utilizados no melhoramento e enriquecimento dos roçados e hortas (insumos, kits de roçado, sementes, entre outros produtos), além de incentivar o uso da medicina tradicional para prevenção e tratamento das doenças que acometem os povos indígenas, a ação envolveu organizações de mulheres indígenas da Amazônia na implementação das ações de combate à Covid-19, e o pilar central da articulação foi a mobilização das mulheres indígenas, com o apoio da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab).
O relatório completo Covid-19 e os Povos Indígenas na Amazônia Brasileira está disponível aqui[/b].
Coiab divulga relatório do plano emergencial adotado durante a primeira onda da pandemia da covid-19 na Amazônia Brasileira
Reunindo estratégias, ações e resultados, o documento traz dados de março até novembro de 2020
Por: