Até 29 de setembro, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e o Caucus Indígena América Latina e Caribe participarão ativamente da Semana do Clima em Nova York, um dos eventos globais mais importantes na agenda de ação climática internacional. A Coiab, que representa os povos indígenas de nove estados da Amazônia brasileira, levará dados alarmantes e atualizados sobre a crise de seca extrema, que afeta severamente os territórios indígenas da região.
A Semana do Clima (Climate Week NYC) reunirá líderes do governo, empresas e sociedade civil, assim como autoridades locais e organizações internacionais, para discutir como frear o aquecimento global. Esta é a 16ª edição que trará o lema “It’s Time” ou “É hora”. A Coiab estará presente por meio do coordenador-geral, Toya Manchineri. Pelo Podáali, a conselheira fiscal do Fundo Indígena, Angela Kaxuyana, a co-chair do Caucus Indígena, Sinéia do Vale, e na representação da Coiab na Apib, o coordenador Kleber Karipuna.
O coordenador da Coiab, Toya Manchineri, ressalta que esse espaço será essencial para que os indígenas possam ter acesso a investidores, parceiros e aos governantes.
“ A Coiab pode alcançar novos lugares, e com isso ter acesso a recursos para ajudar nossas bases, ainda mais quando se trata sobre mudanças climáticas, nossas aldeias precisam de apoio contra enchentes, queimadas, secas e na proteção de seus territórios. O governo ainda demora nessas ajudas e a Coiab pode contribuir nessas estratégias climáticas. Somos nós que estamos nos territórios vivenciando os impactos e crimes ambientais. São os nossos territórios que ajudam a frear as mudanças climáticas. Por isso, demarcar terras indígenas é importante, não só para os povos indígenas, mas também para a sociedade no geral”, afirmou o coordenador-geral.
O Podáali, enquanto o Fundo criado por e para indígenas, terá um papel fundamental nessa agenda. A conselheira Angela Kaxuyana levará as ações do Fundo Indígena, demonstrando que o mecanismo indígena tem a resposta para fazer com que os recursos cheguem diretamente nos territórios, destacado aos governantes e financiadores para que não só reconheçam os saberes e a contribuição dos povos indígenas e comunidades tradicionais, no cuidado ao meio ambiente e sua biodiversidade, mas que também coloquem em prática o que se fala, de apoiar as iniciativas dos povos, comunidades e organizações diretamente e a partir das suas organizações e mecanismos próprios.
A participação da Coiab, do Podáali, Apib e do Caucus Indígena LAC será estratégica para denunciar os impactos das mudanças climáticas nos povos indígenas e destacar o papel crucial da demarcação e titulação das terras indígenas como política climática. Nos diálogos com representantes de governos e organizações internacionais, as autoridades do clima enfatizarão que a proteção dos territórios indígenas é fundamental para a preservação da biodiversidade e para o combate às mudanças climáticas, já que as terras indígenas funcionam como sumidouros de carbono essenciais para o equilíbrio climático global.
Além disso, reforçarão a agenda internacional com outros países da Bacia Amazônica, alinhando esforços para a Jornada rumo à COP 30, e buscando maior colaboração em políticas de adaptação e mitigação climática, especialmente em regiões que enfrentam desafios semelhantes, como a Austrália e as Ilhas do Pacífico.
Durante a Semana do Clima, as lideranças indígenas da Amazônia Brasileira também participarão de reuniões bilaterais e multilaterais, promovendo a titulação das terras indígenas como um dos pilares centrais para o enfrentamento da crise climática, e como uma medida urgente para a sobrevivência dos povos indígenas e da própria Amazônia. Entre os destaques das atividades realizadas pela Coiab, está o lançamento do Boletim Trimestral da Seca Extrema nas Terras Indígenas da Amazônia Brasileira, intitulado “Amazônia à Beira do Colapso”. O lançamento será realizado na quarta-feira (25), às 12h, em uma coletiva de imprensa com lideranças indígenas da Amazônia Brasileira em Nova Iorque e o corpo técnico da Gerência de Monitoramento Territorial Indígena (GEMTI/Coiab), que produziu o boletim.
Baixe aqui a programação completa.
Coiab, uma história de luta
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), fundada no dia 19 de abril de 1989, é a maior organização indígena regional do Brasil, resultado do processo de luta política pelo reconhecimento e exercício dos direitos dos povos indígenas da Amazônia. A coordenação atua em nove estados da região (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), articulada em uma rede composta por associações locais, federações regionais, organizações de mulheres, professores e estudantes indígenas. Ao todo, a Coiab é subdividida em 64 regiões de base.
Podáali, fundo da Amazônia indígena
O Podáali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira é uma conquista do Movimento Indígena Amazônico, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) e de seus parceiros na busca pela proteção e conservação territorial e da biodiversidade das terras indígenas da Amazônia.
Ele foi criado com o propósito de apoiar planos e projetos de vida dos povos, comunidades e organizações indígenas, que reforcem a autodeterminação e protagonismo, valorizem as culturas e modos de vida, fortaleçam a sustentabilidade e promovam a gestão autônoma de territórios e recursos naturais. O Podáali, na língua do povo Baniwa do tronco linguístico Aruak, significa “doar sem querer receber nada em troca”. É sinônimo de celebração, reciprocidade e promoção da sustentabilidade para o bem viver dos povos indígenas.
Texto: Robson Delgado
Foto: Ronaldo Tapirapé