Escuta na TI Caititu reúne lideranças indígenas para discutir impactos climáticos e estratégias de enfrentamento

Por: GEMTI/Coiab

Publicada em: 10/09/2025 às 11:31

No dia 16 de agosto de 2025, a Gerência de Monitoramento Territorial Indígena (GEMTI) da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), em parceria com a Fundação Avina, realizou uma atividade de escuta na Terra Indígena Caititu (AM). O encontro reuniu lideranças indígenas, brigadistas e representantes da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (FOCIMP), com o objetivo de dialogar sobre os impactos das mudanças climáticas e reunir evidências que subsidiem mecanismos de financiamento para perdas e danos na Amazônia. Estiveram presentes e participaram da articulação junto ao território a gerente da GEMTI, Vanessa Apurinã, o técnico João Victor Coutinho e a pesquisadora pós-doutora da UFRJ, Renata Veiga, que integrou a atividade como parte de um projeto financiado pela Fundação Avina.

A atividade teve como objetivo realizar uma escuta dos territórios, a fim de compreender como os povos indígenas percebem e vivenciam os impactos das mudanças climáticas na TI Caititu. O foco esteve em entender de que forma esses fenômenos, especialmente os incêndios florestais e o desmatamento, afetam o dia a dia das comunidades, suas práticas tradicionais e o uso do território.

Embora o termo “crise climática” seja relativamente recente e de cunho técnico, as comunidades já vivenciam e percebem os impactos das mudanças ambientais em seu cotidiano há anos. Os efeitos de secas, queimadas e alterações nos ciclos de cultivo são claros e tangíveis, afetando diretamente a disponibilidade de alimentos, a saúde das famílias e a organização das atividades tradicionais. Esse conhecimento prático é fundamental para compreender a crise climática a partir da experiência vivida pelas comunidades, reforçando a importância de ouvir seus relatos e propostas.

O encontro buscou, ainda, levantar as principais demandas e ouvir as propostas das lideranças, caciques e mulheres indígenas sobre possíveis soluções e estratégias que possam contribuir para mitigar os efeitos da crise climática e fortalecer o apoio direto às comunidades.

A Terra Indígena Caititu é composta por 34 aldeias, onde vivem três povos: Apurinã, Jamamadi e Paumari. Para esta oficina, estiveram presentes representantes de 14 aldeias: Boa Vista (sede do evento), São José, Mamory, Nova Esperança II, Copaíba, Terra Nova, São Sebastião, Bela Vista, Beija-flor, São Domingo, Terra Sagrada, Capurana, Irmã Cleusa e Tombador, além da aldeia Mamuri, que embora não esteja dentro da TI Caititu, é usuária do território e participa ativamente das atividades.

Entre os cerca de 80 participantes, estiveram caciques, lideranças comunitárias, brigadistas e representantes da FOCIMP. A presença das mulheres teve destaque: além de cacicas, outras lideranças femininas compartilharam suas percepções sobre os impactos das mudanças climáticas no dia a dia das aldeias. Elas relataram de forma sensível como a escassez de água, a redução das colheitas e os problemas de saúde afetam diretamente a vida das famílias, reforçando a importância de ouvir as mulheres no processo de construção de soluções.

Foto: João Coutinho/Coiab

O encontro foi conduzido pelo cacique Tatu Júnior, da Aldeia Boa Vista, e organizado ao longo de todo o dia. Pela manhã, ocorreram apresentações institucionais, falas dos brigadistas e relatos iniciais das lideranças. À tarde, os participantes foram divididos em quatro grupos de discussão, que aprofundaram os principais impactos enfrentados pelas comunidades e levantaram propostas coletivas.

Entre os problemas relatados estão: seca dos igarapés, escassez de caça e pesca, diminuição da produção de açaí, castanha e mandioca, além do aumento de doenças respiratórias e diarreias. As queimadas, cada vez mais frequentes e intensas, foram apontadas como um dos maiores desafios, principalmente para as aldeias próximas das cidades. Lideranças também denunciaram o avanço do desmatamento e o uso de agrotóxicos por fazendas vizinhas, que contaminam os rios e reduzem ainda mais a disponibilidade de alimentos.

As propostas construídas coletivamente apontam caminhos promissores. Os participantes reforçaram a necessidade de capacitar mais brigadistas indígenas, garantindo ao menos um por aldeia, além de assegurar equipamentos adequados e formação técnica para o uso desses equipamentos. Também foram destacadas demandas por maior fiscalização por órgãos federais, implementação de sistemas de irrigação e poços artesianos, e investimentos em comunicação comunitária, como rádios e internet.

A oficina evidenciou como as mudanças climáticas já transformam profundamente a vida das comunidades da TI Caititu e, ao mesmo tempo, ressaltou a força organizativa dos povos indígenas em buscar soluções. Esse processo de escuta se torna, assim, um passo essencial para orientar políticas e mecanismos de financiamento climático, colocando no centro os saberes, vivências e propostas das comunidades indígenas da Amazônia.

Foto de capa: Simone Souza