Entre os dias 09 a 21 de fevereiro, aconteceu no Território Wayamu a oficina de capacitação técnica para monitoramento territorial, onde mais de 60 cursistas estiveram presentes e de diferentes povos como: Hexkaryana, Xerew, Waiwai, Katwena, Tunayana, Katxuyana, Kahyana, Txikyana, Mînpoyana, Parukwoto, Mawayana, Xowyana, Ingarïne, Okoimoyana, Karafayana e muitos outros. Organizada pela Associação Indígena Kaxuyana, Tunayana e Kahyana (AIKATUK) e Conselho Geral do Povo Hexkaryana (CGPH), teve como convidados Awana Digital, Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), Força Nacional do SUS (FN-SUS), em parceria com a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé) e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). A atividade está prevista como resultado do projeto Garantindo os Direitos Territoriais Indígenas da Amazônia Brasileira, em que a AIKATUK e CGPH é a implementadora na Terra Indígena Kaxuyana Tunayana.
Durante os primeiros dias de oficina a Coiab ficou responsável de ministrar a palestra sobre direitos territoriais indígenas, realizada pelo advogado da Coiab, Ednaldo Tukano, onde pôde falar da importância da demarcação dos territórios indígenas e o usufruto exclusivo dos povos sobre a terra. Os cursistas tiveram a oportunidade de tirar dúvidas sobre o tema e entender melhor questões complexas de cunho jurídico de seus territórios.
“É de fundamental importância dos temas tratados na oficina dentro dos territórios para que a população indígena envolvida tenha conhecimento de seus direitos, dos procedimentos para realização das ações e principalmente replicar esses conhecimentos adquiridos para os demais parentes. Essas atividades são uma realização visando resultados práticos.” diz Ednaldo Tukano, da assessoria jurídica da Coiab.
“As oficinas nos territórios são importantes porque trazem esse fortalecimento dentro da terra indígena. Pensando nos nossos direitos territoriais, é necessário que possamos entender qual o papel do estado e como cobrar nossos direitos.”
Humberto Kawonoxa, do povo Hexkaryana e presidente do CGPH

Ednaldo Tukano, da assessoria da Coiab em palestra sobre Direitos Territoriais. Foto: Robson Baré. TI Kaxuyana Tunayana – PA (2025)
Já pela parte da Gerência de Monitoramento Territorial Indígena da Coiab (GEMTI), a atividade ocorreu de forma mais prática, onde a ponto focal do projeto, Amanda Ávila, desempenhou a oficina de mapa mental, técnica utilizada para que os cursistas pudessem expor lugares importantes para seus povos e entender a importância que o mapa tem na garantia de seus direitos e como ferramenta de informação técnica que podem ser úteis para o território.
Amanda, nos conta sua experiência em relação à formação “O primeiro momento da oficina foi dedicado à contextualização sobre a importância dos mapas como instrumentos de monitoramento e planejamento territorial. Discutimos como essas ferramentas podem apoiar as comunidades na vigilância de ameaças, na gestão ambiental e na defesa de seus direitos. Pode-se perceber, desde o início, o interesse e a necessidade dos participantes em compreender e utilizar as ferramentas de mapeamento para fortalecer a gestão e a proteção de seus territórios. Durante a parte prática, os cursistas se reuniram em grupos para realizar o mapeamento mental de suas unidades territoriais”.
A Coiab, junto ao Fundo Indígena da Amazônia Brasileira – Podáali, que faz a gestão do projeto e com o apoio da The Tenure Facility, estão a frente do Projeto Garantindo os Direitos Territoriais dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira, que visa apoiar o fortalecimento das organizações de cinco TIs da amazônia brasileira: TI Kaxuyana-Tunayana (PA), TI Kapyra-Kanakury (AM), TI Riozinho do Iaco (AC), TI Ituna-Itatá (PA) e TI Akroá-Gamella (MA), para avançar na garantia dos seus direitos constitucionais. Cada território tem uma implementadora responsável por planejar e executar atividades necessárias referente ao projeto, na TI Kaxuyana-Tunayana são as organizações indígenas AIKATUK E CGPH, que estão à frente do projeto.
Ana Lúcia Kaxuyana, presidente da AIKATUK fala sobre a importância de organizações indígenas e indigenistas que apoiam atividades importantes para seu território:
“As organizações que têm nos apoiado nas atividades relacionadas a direitos territoriais têm dado um suporte muito importante para nós, de poder realizar esse momento histórico e concretizar essa retomada, isso significa justiça para nosso povo. Essas grandes organizações que nos apoiam como Iepé, Podáali e a própria Coiab são essenciais, nos trouxeram uma esperança, estávamos tentando há anos retomar de fato esse território. E sozinhos jamais conseguiríamos, por isso essas organizações somam nas nossas lutas.”

Cursistas em atividade de mapa mental organizada pela GEMTI. Foto: Robson Baré. TI Kaxuyana Tunayana – PA (2025)
O Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, Iepé também esteve presente, além de ser um dos maiores parceiros das associações locais, também apoia a região há mais de 15 anos, incentivando o protagonismo das lideranças indígenas, formações e apoio fundamental aos povos indígenas. Na oficina foram responsáveis também em atividades de mapeamento, apoio logístico e mediação da oficina.
A Coordenadora do Programa Tumucumaque-Wayamu, Manuella Rodrigues de Sousa, diz como o projeto Garantindo os Direitos Territoriais dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira impacta a região “Podemos dizer que a chegada do projeto foi uma virada de chave em termos de fortalecimento das organizações que a gente é parceiro, principalmente as envolvidas, mas a gente sente que gera um impacto no território como um todo com as demais associações, então para a AIKATUK e CGPH especialmente, o projeto chega num momento em que as organizações estavam nesse nível de fortalecimento institucional e receber um recurso significativo para operacionar essa estrutura que eles estavam desenhando e trabalhando a tanto tempo, foi impactante no bom sentido, isso falando das organizações. Nas comunidades isso vira algo concreto e perceptível, fazendo as associações chegarem no território e apresentar o projeto de uma luta das próprias associações e implementar esse projeto a partir das próprias demandas, faz do projeto ser forte e carregar essa importância para os territórios” , finaliza.
Outras atividades também foram realizadas durante a oficina, como: Cartografia e Mapeo, primeiros socorros e manuseio de drones/mecânica de motores, realizada pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari que também participaram de um intercâmbio de conhecimento sobre a temática de direitos territoriais, na qual são reconhecidos por suas atividades.

Equipe Iepé em atividade na oficina. Foto: Robson Baré. TI Kaxuyana Tunayana – PA (2025)
Outra atividade que se destaca é a palestra sobre povos indígenas isolados, ministrada pelo representante da Frente de Proteção Etnoambiental Cuminapanema (FPE CPM), da Funai, Pablo Rodrigues que falou sobre o cuidado com os indígenas em isolamento voluntário e como a demarcação dos territórios indígenas é essencial para a proteção deles, assim garantindo a presença segura dos parentes que escolheram não ter contato.
Na oficina aconteceu também aulas teóricas e práticas de primeiros socorros, com aprendizados que servem a partir das próprias vivências da comunidade, abordando situações simuladas tal qual ataque de animais peçonhentos, fraturas, cortes, perfurações, afogamento entre outros. A equipe Coiab esteve presente também em uma visita a sede da AIKATUK e Iepé, em Oriximiná (PA), onde foram realizada a apresentação dos espaços e momento interativo para aproximar ainda mais as organizações que já são parceiras de longa data, além de entender a situações do dia a dia das organizações que se encontram na região.

Equipe Coiab e Iepé em visita na sede da AIKATUK. Foto: Robson Delgado Baré. TI Kaxuyana Tunayana – PA (2025)
A Coiab entende que é necessário formações e capacitações técnicas que empoderem os territórios para a autodeterminação das lideranças e residentes das aldeias e comunidades. Uma vez que estarão aptas a desenvolver outras atividades entendendo práticas que são capazes de ajudarem efetivamente seu modo de vida e também a garantia de seus direitos constitucionais como a demarcação de terras indígenas, por isso a Coiab através de projetos e parceiros incentiva e desenvolve atividades voltadas aos temas como o monitoramento territorial e formação de lideranças indígenas, para atuarem de forma eficaz dentro de seus territórios.